O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O esperado primeiro embate entre Kamala Harris e Donald Trump, que começou com um tímido aperto de mão proposto pela candidata democrata, foi recheado de pontos a serem analisados, principalmente quando tratados assuntos-chave na corrida eleitoral americana, como imigração, aborto, questões de gênero, inflação, e, principalmente, a checagem de informações.
Na terça-feira à noite, o republicano falou por 42 minutos e a atual vice-presidente, por 37. Trump por vezes deu atenção a destaques do cotidiano dos americanos. O ex-presidente atacou as políticas migratórias e disse que a adversária seria responsável pela “invasão” de estrangeiros no país.
– Em Springfield, eles estão comendo os cachorros, as pessoas que chegaram, estão comendo os gatos, eles estão comendo os animais de estimação das pessoas que moram lá – disse ele.
E aqui surge o destaque para os mediadores da ABC News, David Muir e Linsey Davis, que estavam preparados para as checagens das falas dos concorrentes e prontamente o corrigiram. Muir desmentiu o republicano e informou que as autoridades municipais garantiram que as informações são falsas. Trump rebateu e disse que viu o caso na TV.
Esse não foi o único momento em que ocorreu a checagem de afirmações. Em outro episódio, Trump levantou dados afirmando que a criminalidade está aumentando no país. Novamente, o moderador disse que índices do FBI apontam o contrário e prontamente o candidato disse que o órgão estaria “alterando” os números.
Republicanos reclamaram que poucas vezes Kamala foi contestada pelos jornalistas, mas não saiu ilesa da atuação dos mediadores. Foi confrontada sobre a sua mudança de posição quanto ao “fracking”, que é a perfuração em busca de matéria-prima para combustíveis fósseis. Ainda nas primárias de 2020, a democrata disse em ocasiões que apoiaria a proibição da prática para ajudar a resolver problemas relacionados às mudanças climáticas. Recentemente, ela disse que não proibiria. Questionada novamente no debate, declarou que foi o “voto de desempate” na Lei de Redução da Inflação, que abriu novos arrendamentos para fracking.
Houve outros os momentos que Muir e Linsey se apresentaram firmes diante dos candidatos. Com isso, pode-se apontar que os mediadores tiveram destaque especial durante o encontro.
Principais destaques do duelo
Ambos os candidatos tiveram seus “momentos de glória” durante o debate. Trump tratou de assuntos comuns da sociedade americana e Kamala de temas que o republicano não tem aderência.
Trump atacou a rival dizendo que ela não tinha propostas. Por vezes, comparou-a a Joe Biden. No primeiro debate, o então candidato e atual presidente não teve bom desempenho e os republicanos o chamaram de “velho”, dizendo que não tinha mais condições de se manter na presidência e, inclusive, pedindo para que ele deixasse o cargo. A estratégia agora foi conversar com seu público, que quer Biden fora da Casa Branca o mais breve possível.
Outro ponto positivo para o republicano foi quando falou de inflação e imigração, dois assuntos sensíveis aos americanos. Os EUA vivem um momento econômico complicado e, em boa parte do debate, o ex-presidente atribuiu a situação à má condução econômica da administração Biden-Harris.
No assunto aborto, Kamala saiu na frente. Trump repetiu a falsa alegação de que alguns Estados permitem “abortos após o nascimento”. A mediadora disse: “Não existe nenhum Estado onde seja legal matar o bebê depois de nascer”. A democrata defendeu restaurar o direito ao aborto e falou que Trump decidirá pela proibição. Os jornalistas pressionaram se ele assinaria ou não a restrição nacional. Titubeou e não respondeu com clareza a questão.
Outro ponto para Kamala foi na questão racial. Recentemente, Trump questionou o fato de ela se apresentar como negra. No debate, o ex-presidente gaguejou e disse: “Não dou a mínima importância sobre o que ela é”. Kamala o atacou, dizendo que ele tem histórico de tentar dividir o país.
No resultado final, Trump focou no seu público. Kamala se mostrou mais aberta, tentou apresentar pautas. Agora, resta esperar a próxima pesquisa e ver se a estratégia democrata realmente ganhou o voto dos indecisos.
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