Na semana passada, passei a tarde no Sarandi, o bairro de Porto Alegre mais impactado pela catástrofe climática de maio. Mais especificamente na Vila Elizabeth, onde é possível andar por alguns quilômetros sem encontrar uma alma sequer pelas ruas. Centenas de pessoas não voltaram para casa, desde o dia em que as abandonaram, enquanto os diques extravasavam ou rompiam. Algumas edificações foram destruídas.
Lembrei da visita ao ler o texto do repórter Mathias Boni em ZH: mais de cem dias após a enchente, nenhuma moradia prometida pelos governos federal e estadual foi entregue no Estado. NENHUMA!
A título de compreensão: há iniciativas nos dois entes governamentais - Estado e União. Mas nenhuma casa vai chegar a quem precisa, se as prefeituras não fizerem a roda da burocracia girar. São elas que identificam as famílias que tiveram as casas destruídas, que elaboram os cadastros e os enviam para Brasília, que escolhem os terrenos, no caso do programa estadual, onde serão erguidas as novas moradias. É nas prefeituras que está o gargalo.
No caso do benefício do governo federal, por exemplo, é clara a demora no cadastro das famílias feitos pelos municípios. Os Executivos argumentam que têm dificuldades técnicas e de força de trabalho para acelerar o processo. É razoável. Um laudo equivocado, acreditando-se na melhor das intenções, pode resultar em dar casa para quem não precisa. No caso do Brasil, onde até Minha Casa Minha Vida, acaba em corrupção, não é algo improvável. Mas é preciso forças-tarefas, contratar de forma emergencial empresas para produzir laudos, como fez Porto Alegre, e desburocratizar. Enfim, é hora de acelerar.