O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Enquanto o Rio Grande do Sul inicia o processo de reconstrução da enchente de maio de 2024, o sul da Alemanha enfrenta o momento mais crítico de um forte alagamento na região da Baviera e em Baden-Württemberg. A chuva teve início no fim de semana. Ruas foram inundadas, houve deslizamentos de terra e casas foram alagadas. Milhares de pessoas tiveram de ser evacuadas.
Além da chuva, rios como o Danúbio, Reno e Inn subiram, cenário parecido com o que o Estado enfrentou recentemente. O balanço desta quarta-feira (5) registra, ao menos, cinco mortes e vários desaparecidos.
O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, esteve na cidade de Reichertshofen na segunda-feira (3) e garantiu ajuda do governo federal. Segundo a Deutche Welle, o governador da Baviera, Markus Söder, disse que 20 mil socorristas continuam trabalhando nos resgates somente no seu Estado e que mais de 3 mil pessoas tiveram de deixar suas residências.
Conforme agências de notícias alemãs, o balanço inicial apontava que, em alguns locais, caiu mais chuva em 24 horas do que a média de um mês inteiro. As regiões mais afetadas agora estão no entorno do rio Reno, no norte do Elba e no Sul, aos pés dos Alpes. Essa é a segunda grande enchente em menos de cinco anos - em 2021, ocorreu a chamada "enchente do século" no Vale do Ahr, quando 135 pessoas morreram.
— Pouco antes (já se alertava) e no fim de semana caiu um pé d'água. Não em todos os lugares, mas de forma esparsa. Em algumas localidades choveu, por exemplo, em um dia só o que era previsto por mês inteiro. Então no sábado (1º) e domingo (2) já estava uma situação que barragens já tinham rompido e as que tinham ficado, estavam ameaçando estourar — explica o jornalista da redação brasileira da Deutsche Welle Maurício Cancilieri, que mora em Bonn.
Autoridades ainda não sabem explicar o que ocorreu e seguem com cautela ao afirmar os motivos.
— Os especialistas são muito cautelosos em atribuir ou falar diretamente que isso é consequência de mudança climática. Por que isso é um estudo muito complexo, existe até uma ciência para isso, de você conseguir atribuir um evento extremo às mudanças climáticas. Não vi aqui ninguém afirmar categoricamente que é, mas a gente sabe que pode ficar mais frequente — completa Cancielieri.
Estudante de jornalismo em Eichstätt, na Baviera, a paulista Isabella Astrauskas estava visitando sua irmã em Munique, que fica cerca de 1h30min de trem entre as cidades. Quando tentou retornar para casa, na segunda-feira (3), não conseguiu devido às enchentes.
— Eu sabia que estava chovendo sem parar, mas não estava contando que não ia conseguir pegar o trem, porque o meu aplicativo de viagem não avisou que os trens não estavam funcionando. Cheguei à estação e me surpreendi. Fui ver outras possibilidades, e não tinha — explicou.
Alertas do governo
Na Alemanha, são comuns alertas meteorológicos do governo para avisar a população. Na enchente de 2021. Bonn, cidade onde vive Cancieleri, foi afetada. Com apitos e mensagens de inundação, os aparelhos informam os moradores que serão atingidos.
Neste 2024, Isabella viu, dias antes, as postagens do governo no Instagram, alertando para fenômeno. Porém, não recebeu mensagens via celular.
— A gente não chegou a receber. Achei estranho, porque eles (o governo) sempre fazem esses testes, em que todo usuário de celular recebe. Dessa vez, não teve. Nos aplicativos de transporte, havia um alerta falando que era melhor não viajar para locais onde havia água acumulada — comentou a estudante, que mora há três anos na Alemanha.
Ainda nesta segunda-feira (3) o Serviço Meteorológico emitiu novos alertas para os próximos dias nas zonas sul e leste do país.