A aprovação da primeira resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas exigindo cessar-fogo duradouro na guerra do Oriente Médio expõe divergências entre Israel e os Estados Unidos. Essas rusgas já estavam presentes nos bastidores: a Casa Branca sob o governo Joe Biden vinha demonstrando desconforto com o grande número de mortes civis na Faixa de Gaza e tem se esforçado para evitar que as forças armadas israelenses ataquem Rafah, o último bastião relativamente seguro do território, onde estão milhares de refugiados.
Apesar da aliança histórica entre Estados Unidos e Israel, o governo Benjamin Netanyahu não é ideologicamente alinhado aos democratas.
Agora, as diferenças estão explícitas.
A resolução foi apresentada pelos 10 membros não permanentes do Conselho e aprovada por 14 votos a zero. Houve uma abstenção, a dos Estados Unidos.
E é justamente essa abstenção, que, embora pareça pouco, que faz toda a diferença. Os Estados Unidos vinham exercendo seu poder de veto até agora, principalmente porque não garantiam o direito à autodefesa por parte de Israel. Dessa vez, não foi um voto a favor, mas a abstenção é um passo dissonante em relação ao governo Netanyahu.
A Casa Branca justificou o voto dizendo que os EUA apoiam o cessar-fogo informou que se abstiveram porque a resolução não condena o Hamas — a medida repudia “toda a violência e hostilidades contra civis, e todos os atos de terrorismo” e “a tomada de reféns é proibida pelo direito internacional”, mas não cita nominalmente o grupo terrorista.
O incômodo do governo de Israel ficou explícito no cancelamento da viagem que uma delegação faria a Washington. O conselheiro de Segurança Nacional de Israel, Tzachi Hanegbi, e Ron Dermer, membro do gabinete de guerra e conselheiro de Netanyahu, embarcariam nesta segunda-feira (25) em Tel Aviv.
Um comunicado do gabinete do primeiro-ministro diz que "os EUA recuaram da sua posição consistente no Conselho de Segurança que ligava um cessar-fogo à libertação dos reféns" e que "prejudica o esforço de guerra, bem como o esforço para libertar os reféns".
A resolução exige um cessar-fogo imediato para o mês sagrado do Islã, o Ramadã, que começou há 15 dias, a libertação imediata e incondicional dos reféns e “a necessidade urgente de expandir o fluxo” de ajuda para Gaza.