A Ucrânia realizou no domingo (24) um grande ataque à Crimeia, a península arrancada dos ucranianos pelos russos em 2014 e onde está localizada a base naval de Sebastopol, outrora poderosa Frota do Mar Negro, de Vladimir Putin. O governo de Volodimir Zelensky diz ter atingido dois navios de desembarque russos, o Yamal e o Azov, um centro de comunicações e outras instalações.
A ação ocorre ao final de uma semana em que Putin foi do céu ao inferno: conquistou mais seis anos de mandato na eleição de fachada do domingo (17) e declarou as áreas ocupadas na Ucrânia partes da "Nova Rússia", mas, na sexta-feira (22), uma grande casa de espetáculos dos arredores de Moscou foi palco de um massacre terrorista que deixou pelo menos 137 mortos.
A Ucrânia parece ter planejado atingir a Crimeia, joia da coroa russa - e onde a guerra, de fato, começou, em 2014 -, justamente no momento de fragilidade do Kremlin. O atentado ao Crocus City Hall, reivindicado pelo grupo Isis-K, uma facção do Estado Islâmico no Afeganistão, é um dos piores dos últimos 20 anos, e abala a imagem de Putin como o campeão da segurança perante a população.
A ação da Ucrânia é, também, tentativa de mostrar ao Ocidente que está ativa e que vale continuar apostando em suas forças armadas - em outras palavras, que Estados Unidos e Europa devem continuar enviando armamentos e recursos financeiros ao Leste Europeu.
Nas últimas semanas, a Ucrânia perdeu terreno front. A inteligência dos Estados Unidos indica que o país pode ficar sem mísseis de defesa antiaérea nesta ou na próxima semana. O controle aéreo, desde o início da guerra, é dos russos.
Desde o fim da União Soviética, a Ucrânia não tem grande indústria armamentista, e, vale lembrar, seus arsenais nucleares foram entregues para a Rússia, em 1994, em troca da garantia de não agressão (Memorando de Budapeste). Deu no que deu. Certamente, se a Ucrânia ainda tivesse armas atômicas, a história da guerra seria outra. Provavelmente, graças ao elemento dissuasório, as tropas de Putin nunca teriam cruzado a fronteira. Com o fim da URSS, a indústria armamentista ucraniana se viu envolvida em gestão ruim e em corrupção.
Quando Zelensky olha no horizonte de 2024 não vê um bom cenário: a perspectiva de vitória de Donald Trump nos EUA, em novembro, deve significar o corte do apoio americano à Ucrânia. Ele sabe que suas forças armadas, sozinhas, não são capazes de sustentar a defesa do país. E o pacote de US$ 60 bilhões que o governo Joe Biden prometeu em apoio à Ucrânia está parado na Câmara dos Deputados, onde os republicanos são maioria.