Um ditado antigo nas Redações diz que a sorte acompanha os bons repórteres.
Veterano correspondente internacional, formado na primeira turma de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em 1975, o gaúcho Luiz Recena Grassi, 72 anos, está lançando um novo livro sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia exatamente no momento em que contextos políticos trazem o conflito de volta aos noticiários: nas últimas semanas, o principal nome da oposição russa, Alexei Navalny, foi encontrado morto em condições suspeitas em uma prisão na Sibéria, Vladimir Putin garantiu mais seis anos no poder e o Kremlin determinou que os territórios ocupados no país vizinhos sejam considerados parte da "Nova Rússia".
O "momentum Rússia", sorte para o escritor no mercado editorial cada vez mais difícil, chega ao final de mais de dois anos de guerra e revela um novo capitulo do embate no Leste Europeu. O governo Putin resistiu às sanções econômicas impostas pelo Ocidente e, a depender do resultado das eleições presidenciais americanas, em novembro, o xeque-mate para a Ucrânia pode estar próximo.
Após lançar em julho de 2023 "Rússia condenada - Primeira guerra mundial com alta tecnologia", Recena debruça-se no segundo volume, intitulado "Rússia resistente", sobre como o Kremlin sobreviveu à pressão. Os textos são acompanhados de ilustrações de Pedro Koshino.
Com artigos de alta qualidade, o jornalista analisa o cenário político e os avanços e retrocessos no front. Evidencia, por exemplo, vitórias russas na guerra e destaca a fragilidade de Volodimir Zelensky, presidente da Ucrânia. Recena avalia, por exemplo, que as derrotas ucranianas no front ocorrem paralelamente à revelação de dados econômicos positivos para Putin: "o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou, para mais, o crescimento do PIB russo para este ano. Vai ser de 2,6%, mais de um por cento acima da primeira previsão, feita ano passado. Enquanto a Alemanha quebra e a França anuncia sombrios prognósticos. Anos difíceis para as duas locomotivas europeias".
- Não apresento conclusões, não faço julgamentos nem emito conceitos teóricos. São somente crônicas sobre fatos do dia ou semana, com comentários e inserções de história dos dois brigões e do mundo em geral - diz o jornalista.
Recena é gaúcho, mas, desde cedo, aventurou-se pelo mundo. Da Razão de Santa Maria, o primeiro jornal em que trabalhou, voou direto para Brasília: Gazeta Mercantil, O Globo, Jornal de Brasília, Correio Brasiliense, Radiobras, EBN, EBC. No México, deu aula de redação em uma faculdade. Na extinta União Soviética, trabalhou na agência de notícias TASS e escreveu sobre a Perestroika e a queda do regime para jornais do Brasil, Portugal, além de rádios brasileiras e alemãs. Em Paris, foi correspondente do Correio Braziliense. Depois de quatro anos em Portugal, está de volta a Brasília.
Assim como fizera no primeiro volume, o autor intercala as análises de cenário com memórias do tempo em que atuou como correspondente em Moscou, no quente momento político de junho de 1989 a setembro de 1992. Em um dos textos, lembra a oportunidade que teve de entrevistar Boris Yeltsin, o bonachão presidente da Rússia que nascia após o Império Soviético ruir.
"Era o fim de uma sessão do novo parlamento, e Boris Yeltsin descia a larga, imponente homenzarrão. Neste dia, tinha o triunfo estampado na cara. Com a vitória em uma das batalhas contra Gorbatchov. Ao vê-lo, fui para cima dizendo Brasil e outras frases que ajudassem. Ele atendeu na maior boa vontade. Eu esperava meu intérprete, que sumira. A eternidade do tempo mostra a cara nestas horas".
Bem, pensando melhor, nem sempre a sorte acompanha os bons repórteres. Mas, ao menos, rendem boas histórias para brindar seus leitores. O resto da história do dia em que Recena perdeu a oportunidade de entrevistar uma das maiores personalidades do século 20 por causa do tradutor você conhece no livro.
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Rússia resistente - Primeira Guerra Mundial com Alta Tecnologia - Volume 2
Irmãos Recena Editora
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