Até parece que os vereadores de Porto Alegre não têm mais com o que se preocupar. Não bastasse haver duas CPIs em andamento (que pouco avançam, aliás) para supostamente investigar as irregularidades na Educação, agora aparece mais essa disputa de (1) ego e (2) ideológica a respeito de como "homenagear" uma efeméride: o 8 de janeiro, data dos ataques golpistas em Brasília.
A Capital foi motivo de chacota nacional, de vergonha, por causa do Dia do Patriota, proposto pelo ex-vereador Alexandre Bobadra (PL). Desde sexta-feira (25), os parlamentares correram pra revogar a lei.
Foi correto, mas, agora, apagado o incêndio, deveriam se debruçar em entender como uma lei dessas passou por três comissões da Câmara Municipal e "ninguém" se deu conta do absurdo - ou, ao menos, não gritou. Já o prefeito Sebastião Melo deveria, a essa altura, estar preocupado com fato de ter lavado as mãos depois que o projeto ficou sobre sua mesa por dias 15 úteis. Poderia ter vetado, sancionado. Silenciou.
Revogado o Dia do Patriota, a direita tenta agora suspender também o Dia em Defesa da Democracia, proposto pelo vereador Aldacir Oliboni (PT). Tem razão o parlamentar ao dizer que há, na tentativa, jeito de retaliação. A lei que homenageia essa efeméride, também para o fatídico 8 de janeiro, foi promulgada em 2 de junho, um mês e oito dias antes da legislação oficializar o Dia do Patriota, em 10 de julho.
Ninguém até a semana passada havia falado em revogá-la. Mas, na segunda-feira (28), menos de uma hora depois da reunião de líderes na Câmara ter concordado sobre a necessidade de revogar a lei de Bobadra, vereadores do PP e MDB se uniram para suspender também o Dia da Democracia.
O pedido partiu da vereadora Comandante Nádia (PP). Outros seis vereadores a acompanharam: Fernanda Barth (PL), Idenir Cecchim (MDB), Lourdes Sprenger (MDB), Marcelo Bernardi (PSDB), Mônica Leal (PP) e Pablo Melo (MDB).
A emenda pode sair pior do que o soneto. Os vereadores, que, repito, fizeram o correto ao revogar o Dia do Patriota, deveriam simplesmente, agora, refletir sobre o que ocorreu e torcer para que os eleitores esqueçam o episódio. Mas não. Vão mexer mais no tema. Se fosse uma série de streaming, estaria por vir a segunda temporada de uma história que envergonhou Porto Alegre.