Apaixonado, incomodado, desconfiado e enraivecido. Esse é o homem Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu nesta quinta-feira (12) um grupo de jornalistas no Salão Leste, no segundo andar do Palácio do Planalto, para um café da manhã regado a croissant, diferentes tipos de pães e sucos. Articulado pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), o gaúcho Paulo Pimenta, esse foi o primeiro encontro do presidente com a imprensa desde a posse. Éramos cerca de 30 profissionais sentados a uma mesa em formato de "U", que, de cara, despertou crítica de Lula, que preferia um quadrado. Desejava ficar mais próximo dos repórteres. O cenário fora montado por Ricardo Stuckert, o fotógrafo oficial da Presidência que, Pimenta fez questão de destacar no início da conversa, agora é também o chefe da Secretaria Nacional do Audiovisual. Para as próximas, será feito como o presidente sugeriu. Stuckert, homem de confiança de Lula e Janja, aliás, é também o maestro: ele define quando os demais fotógrafos, dos veículos de comunicação, podem ou não fazer imagens.
O Salão Leste, onde no dia da posse Lula recebeu os cumprimentos de líderes internacionais, está limpo. Com as janelas cobertas por cortinas, não é possível observar se os vidros foram danificados pelos atos golpistas de domingo. Entramos na peça, ao lado do Salão Nobre, onde ocorrem as cerimônias de posse de alguns ministros, em grupos de quatro: duas mulheres e dois homens.
- Diferentemente dos partidos políticos, a categoria de vocês tem equiparação - disse Lula. - Mas ainda acho que há mais homens do que mulheres.
Lula está no centro da mesa. A sua esquerda, está Janja. À direita, Pimenta. O presidente se declara:
- Estou bem casado e apaixonado. Podia ficar namorando, mas voltei para cá para fazer o povo voltar a sorrir.
Mostra-se incomodado com o fato de estar morando, mesmo depois da posse em um hotel com Janja e duas cachorras, uma delas Resistência, que subiu a rampa com o casal - e não na residência oficial, o Palácio da Alvorada.
- Não temos casa para morar. Estou cansado de ficar em hotel. Não é adequado para governar o país. Não quero morar como clandestino.
Ele relatou ter visitado a Granja do Torto e o Palácio da Alvorada, mas alegou que não há condições de habitar esses dois prédios.
- Não tinha mais cama (no Alvorada) - disse.
O incômodo se converte em raiva quando ele fala dos atos golpistas. Lula confessa não esperar, uma semana depois da posse, testemunhar tamanha violência. Deixa escapar desconfiança de um palácio que conta, 12 dias depois da posse, com muitos militares ligados a Jair Bolsonaro.
Desde o início, os assessores explicaram que não se tratava de uma entrevista coletiva. Lula fala a maior parte do tempo. Com agenda marcada para as 11h com o ministro da Fazenda Fernando Haddad, quase todos se inscrevem para fazer perguntas, mas apenas seis profissionais conseguem, seguindo a escolha de José Crispiniano, o secretário de Imprensa da Presidência.
Prometendo uma boa relação com a imprensa, ele encarrega Pimenta da missão de combater a "indústria de fake news".
- Precisamos construir uma narrativa para tirar da cabeça de bolsonaristas que acham que são melhores do que os outros.
E demonstra estar com pressa de governar:
- O mandato é muito curto para quem ganha e muito longo para quem fica na oposição.
Ao final, quando Stuckert orienta o presidente a fazer uma foto com o grupo de jornalistas, Lula olha para os lados e não vê a mulher:
- Onde está a Janja?
Ela estava conversando com assessores a cerca de 10 passos de Lula, já cercado dos repórteres que buscavam alguma declaração fora do pronunciamento principal. Com Janja de volta ao lado do marido, enfim, a foto é feita.