Depois de idas e vindas, algum gelo e muitas rejeições por parte de influentes petistas, o lugar ao sol de Simone Tebet (MDB-MS) na Esplanada dos Ministérios está definido. Com seu capital político de 4,9 milhões de votos, fundamentais para desequilibrar o segundo turno a favor de Luiz Inácio Lula da Silva, a senadora em final de mandato e terceira colocada no primeiro turno deve chefiar o Ministério do Planejamento.
Desde a vitória, o presidente eleito dissera que Tebet permaneceria em Brasília para ajudá-lo no governo. Mas lá se foram quase dois meses de negociações internas que exigiram de Lula todo o seu poder de articulação para contornar resistências petistas a que Tebet fosse alçada a um cargo de alta visibilidade, que poderia criar problemas ao partido no futuro, inviabilizando a candidatura de Fernando Haddad, por exemplo, à presidência, em 2026.
Tebet queria a pasta da Educação. O PT negou, e o cargo foi para o ex-governador do Ceará Camilo Santana. Depois, ela pediu o Desenvolvimento Social, a joia da coroa do futuro governo, por abrigar o programa Bolsa Família. Recebeu um contundente "não", e o ministério ficou também com o PT (Wellington Dias, ex-governador do Piauí). O MDB tentou Cidades, projetando a capilaridade da pasta nos grotões brasileiros, mas não levou - e o posto ainda não tem titular. Depois, Lula ofereceu à senadora o Meio Ambiente, mas foi a vez de Tebet condicionar o aceite à nomeação da ex-ministra Marina Silva (Rede-SP) ao cargo de Autoridade Climática, versão brasileira do cargo de enviado para o Clima criado por Joe Biden, nos EUA, para John Kerry. Também não deu "match". Restou a Tebet o Planejamento, algo visto como "descortesia" na expressão de um emedebista. Afinal, mesmo para a pasta, ela não era o primeiro nome de Lula, que, antes, tentara o economista André Lara Resende, um dos pais do Plano e Real e integrante do grupo de transição na Fazenda, que declinou.
Nessas idas e vindas, houve esfriamento - Tebet não participou da cerimônia de diplomação de Lula, em 12 de dezembro, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que levantou rumores sobre possível distanciamento. Mas os dois voltaram a conversar pessoalmente na semana passada, em Brasília, quando Lula apresentou a Tebet o organograma do Planejamento. Nesta terça-feira (27), mais uma descortesia a Tebet. Seu aceite veio pela boca do futuro titular da Secretaria das Relações Institucionais, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) - e não de Lula -, que deixou em aberto o escopo do ministério, tudo indica que sem as gestões do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, o que dariam alguma visibilidade à senadora, na falta da vitrine do Desenvolvimento Social.
Não se trata, no entanto, de prêmio de consolação. O Planejamento é burocrático, mas fundamental - embora sem a gestão direta dos programas estratégicos, Tebet participará de comitês gestores de próprio Bolsa Família e do Minha Casa, Minha Vida, por exemplo. O sucesso do ou da titular da pasta, como na Fazenda, entretanto, possivelmente não renda louros (leia-se, votos). Mas seu fracasso pode determinar para sempre o futuro político do ocupante da cadeira - e do governante ao qual responde.