Enquanto alguns jornais internacionais destacam o silêncio de Jair Bolsonaro, que não veio a público até a tarde desta segunda-feira (31) reconhecer a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (casos de The New York Times, Financial Times, Le Monde e El País), alguns governos aceleram os contatos com a equipe vitoriosa, que irá governar a partir de 1º de janeiro de 2023.
Menos de 10 horas depois da consolidação dos resultados, a Noruega anunciou que retomará a ajuda financeira contra o desmatamento da Amazônia, congelada durante a presidência de Jair Bolsonaro.
Espen Barth Eide, ministro de Meio Ambiente norueguês, disse que seu governo está ansioso para entrar em contato com a equipe de Lula.
- Há quantias significativas congeladas em uma conta no Brasil no Fundo Amazônia, que podem ser desembolsadas rapidamente - disse em entrevista ao NTB.
O país escandinavo é o principal fornecedor de recursos para a proteção da floresta. De acordo com o ministro, 5 bilhões de coroas norueguesas (cerca d R$ 2,5 bilhões) aguardam para serem utilizados no fundo de preservação da Amazônia. Também a Alemanha tem interesse na retomada do repasse, em troca de redução de taxas de desmatamento.
O governo dos Estados Unidos, um dos primeiros a reconhecer a vitória de Lula e a transparência do pleito brasileiro, na noite de domingo (30), pretende enviar ao país altos funcionários para a transição. Chegou-se a cogitar a vinda de Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Joe Biden. Além de ser um dos homens mais próximos do democrata, o funcionário é profundo conhecedor das entranhas da política brasileira. No ano passado, ele esteve em Brasília liderando uma comitiva que discutiu temas de segurança, cooperação militar e sistema eleitoral.
A narrativa de Bolsonaro de questionar a lisura do processo eleitoral brasileiro já estava em marcha, assim como havia sinais de que, em caso de derrota, o presidente e candidato à reeleição dificultaria a transição. Ambos os problemas são conhecidos de Biden, que os enfrentou no processo eleitoral de 2020 nos Estados Unidos, quando Trump não reconheceu a derrota (jogou golfe no dia seguinte à eleição), atrasou o início da transição (iniciada formalmente só 16 dias depois do resultado) e não passou a faixa ao sucessor.
O pano de fundo é a percepção de que Bolsonaro espelha Trump e, na visão do Departamento de Estado americano, é fundamental deixar clara a lisura do pleito e o respaldo às instituições brasileiras.