Os oito candidatos ao governo do Rio Grande do Sul que debateram nesta terça-feira (27) na RBS TV podem ser divididos em dois grandes grupos. Um desses grupos optou por colar sua imagem a dos candidatos nacionais – casos de Onyx Lorenzoni (PL), representante de Jair Bolsonaro no Estado, e de Edegar Pretto (PT), de Luiz Inácio Lula da Silva –, espelhando a polarização na disputa pelo Planalto.
Essa estratégia acabou respingando em Eduardo Leite (PSDB), que ficou na defensiva em boa parte das quase três horas do último encontro antes do primeiro turno. Os momentos mais quentes do debate foram protagonizados por duelos entre Onyx e Leite, entre Pretto e Leite e entre Onyx e Pretto. Embora em campos opostos do espectro político, os representantes do PL e do PT por vezes ensaiaram ataques ao candidato tucano. Sobraram ironias ao se referirem à estratégia do governo Leite contra a covid-19, chamada pelos adversários de “fecha tudo” ou referências “às planilhas bonitas”, em críticas veladas aos métodos adotados pelo governo para exibir à população dados sobre a pandemia. Pretto chegou a dizer que Leite ficou “pintando mapinha fechado no Palácio Piratini”, enquanto as empresas cerraram as portas.
Em outro momento, Pretto comparou Onyx e Leite, dizendo que eles “apoiam-se um ao outro”, porque apoiaram Bolsonaro em 2018. Nesse momento, o candidato do PL disparou uma das frases mais duras da noite, pedindo respeito.
Foi, sem dúvida, o debate mais combativo do primeiro turno, com Onyx, Pretto e Leite deixando de lado a cordialidade que marcou os duelos anteriores.
Logo na primeira pergunta, Onyx questionou o ex-governador sobre os recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), sobre a dívida do IPE Saúde e o acusou de colocar em dia contas do Estado com dinheiro enviado pelo governo Bolsonaro. Leite ironizou o adversário, afirmando que, apesar de seus 30 anos de vida pública, precisava ler o material preparado por assessores (e não olhar para a câmera). Onyx responderia à provocação no segundo bloco, quando Leite também se utilizou de suas anotações para citar dados do governo.
Em algumas oportunidades, Pretto, ao perguntar a Onyx, aproveitou para mirar em Leite, a quem se referiu como “alguém que votou em Bolsonaro e não se arrependeu”. Onyx sempre que pode escolher a quem questionar mirou nos dois adversários diretos – Leite, o primeiro colocado nas pesquisas – e Pretto, na terceira posição. O tucano buscou fugir da polarização, dizendo que faz “política com amor, não com ódio”, e, sempre que possível, levantou a bandeira do pagamento em dia do salário dos servidores.
Embora o trio tenha protagonizado os duelos mais quentes – e, em geral, mais apreciados pelo telespectador –, a troca de farpas impediu o aprofundamento de propostas. Vieira da Cunha (PDT), que procurou evitar o confronto direto, acabou se destacando ao aparecer como alguém que atacou problemas – e não um adversário diretamente. Ele também foi auxiliado pela sorte, quando, em sua vez de perguntar, o tema sorteado foi educação, principal bandeira do pedetista. O candidato aproveitou para se dizer envergonhado com o fato de o Rio Grande do Sul ter o quarto pior índice do país em Ensino Médio, no ranking do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Como a pergunta foi endereçada a Roberto Argenta (PSC), Leite não teve oportunidade de contra-argumentar. Em outro momento, visivelmente exaltado, Vieira da Cunha questionou os dados da segurança pública apresentados pelo ex-governador, ao afirmar que o Estado teve o “agosto mais sangrento”, referindo-se aos assassinatos e decapitações na guerra entre facções criminosas.
Ficou para o segundo grande grupo de candidatos – composto por, além de Vieira da Cunha, Vicente Bogo (PSB), Ricardo Jobim (Novo) e, em menor grau, Argenta (PSC) e Luis Carlos Heinze (PP) - o aprofundamento de propostas. Jobim e Vieira discutiram sobre o tamanho do Estado, sobre o número de secretarias e no melhor critério de escolha, entre técnicos e gestores, de seus líderes. Heinze e Argenta dialogaram praticamente apenas entre os dois sobre geração de emprego, com o candidato do PP citando em diversas vezes investimentos em um “ecossistema de inovação”, sem detalhá-lo, e o representante do PSC defendendo a industrialização da Metade Sul – propondo a rediscussão da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), transformando-a em uma escola técnica. O sorteio dos temas oportunizou aos telespectadores conhecer o que pensam os postulantes sobre cultura, turismo e ambiente. Ainda que de forma superficial, os candidatos foram obrigados a expor suas ideias sobre temas que, de forma geral, costumam passar ao largo de suas campanhas e propostas.