Nos últimos anos, observamos a extrema direita ocupar, graças a vitórias eleitorais, assentos em parlamentos europeus, em países como Áustria e Espanha, chegar ao segundo turno de pleitos presidenciais, como na França, e virar governo na Hungria, na Polônia e, mais recentemente, na Suécia. Mas neste domingo (25), pela primeira vez, esse campo ideológico pode passar a liderar uma grande potência do continente.
A Itália, terceira nação mais rica da União Europeia (UE), deve eleger Giorgia Meloni e seu partido, Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália) no pleito legislativo que ocorre depois da renúncia, em julho, do primeiro-ministro Mario Draghi.
Classificada como "pós-fascista" pelos adversários, Giorgia conseguiu aglutinar em sua coalizão duas figuras polêmicas e que provocam preocupação no bloco econômico europeu: o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, do Forza Italia (Força Itália), e o ex-vice-premier Matteo Salvini, da Lega (Liga). O primeiro, um animal político por natureza, é sinônimo de corrupção. O segundo é conhecido por suas posições anti-imigração e eurocéticas. Desse caldo ideológico, nascerá o provável novo governo italiano.
A coalizão, segundo pesquisas, tem 46% da preferência, diante de uma centro-esquerda fragmentada, cujo principal representante é Enrico Letta (Partido Democrático), que não deve conseguir, conforme levantamentos, mais de 20,5% dos votos. A terceira posição é ocupada pelo Movimento 5 Estrelas, do ex-primeiro-ministro e autointitulado antissistema Giuseppe Conte, que tem 14,5%.
Com uma agenda baseada na segurança pública e em algo do tipo "mais Itália e menos Bruxelas", a coalizão de Giorgia é acusada de ser contrária à imigração, opõe-se ao que chama de "islamização" do país e criticada por criminalizar minorias, como a comunidade LGBTQIA+. Porém, a política de 45 anos, nascida em Roma, vem rebatendo uma por uma das acusações, em especial a de que representaria a versão contemporânea do fascismo e de ideais antidemocráticos. Ela se classifica como "conservadora", supostamente representando a direita tradicional. Mas seu discurso "antiglobalista" se aproxima muito de líderes nacionalistas e populistas como o húngaro Viktor Orban.
Na semana passada, inclusive, um político de sua coalizão, Calogero Pisano, coordenador de seu partido na província de Agrigento, na Sicília, foi suspenso, depois que o jornal La Reppublica publicou declarações feitas por ele no passado. Em 2014, Pisano escreveu em uma rede social que o ditador nazista Adolf Hitler foi "um grande estadista". Dois anos depois, ele "elogiou" Giorgia chamando-a de "fascista moderna".
A perspectiva de um governo na Itália chefiado por Giorgia preocupa as instituições europeias, mas diplomatas e especialistas não consideram atualmente um cenário de ruptura desse país com o bloco.
- Não é a primeira vez que nos deparamos com o desafio de enfrentar governos formados por partidos de extrema-direita ou de extrema-esquerda - disse o comissário europeu para a Justiça, Didier Reynders.
O clima é de esperar para ver.