Sem conseguir fracionar o território da Ucrânia na base do canhão, Vladimir Putin deu início nesta sexta-feira a sua manobra política para anexar vastas áreas do país agredido. Assim como fizera na Crimeia, em 2014, para dar um verniz de legalidade à ocupação, o Kremlin realiza até segunda-feira (26) referendo no qual a população de quatro regiões ucranianas, supostamente, decidirão se desejam que seus territórios se juntem à Rússia.
Trata-se de uma consulta com cartas marcadas, que ocorre em Zaporizhia, onde fica a maior usina nuclear da Europa, em Kherson, importante cidade do sul ucraniano, e nas províncias de Donetsk e Luhansk, de maioria de falantes russos e cujo grito por autonomia serviu de argumento para a Rússia invadir o país vizinho, em 24 de fevereiro.
A ofensiva ucraniana, que nas últimas semanas, aumentou a pressão sobre as tropas russas, levando Putin a anunciar a convocação de 300 mil reservistas e ameaçar utilizar armas nucleares, perdeu força nos últimos dias. Ainda assim, houve ataques a postos de votação em algumas localidades. A mídia estatal russa destacou a suposta participação em massa da população, algo que não foi possível verificar de forma independente.
Como a coluna já alertou, a vitória do "sim" à anexação é uma manobra de Putin para justificar que qualquer ataque contra esses territórios será considerado um ato de guerra contra a própria Rússia - e aí todas as alternativas estarão sobre a mesa, inclusive as nucleares.