Benjamin Netanyahu sorri com a derrocada do governo em Israel, mas não será tão fácil, mesmo para um dos mais astutos políticos da atualidade, voltar ao poder.
Ao longo desse um ano, Bibi, como é conhecido, trabalhou nos bastidores incansavelmente para ver esfarelar-se a esdrúxula coalizão que possibilitou destravar, ao menos por 12 meses, o Executivo. Ele conseguiu. Para levar o governo à queda, confirmada nesta quinta-feira (30), a partir da dissolução do parlamento e a convocação de novas eleições, ele explorou as divisões internas dos oito partidos governistas. Em especial, cooptou rivais do primeiro-ministro Naftali Bennet (direita nacionalista) em sua própria legenda, Yamina, a votarem contra a renovação da lei que dá aos moradores de assentamentos judaicos na Cisjordânia, território palestino, o mesmo status jurídico de quem vive dentro de Israel. O governo implodiu. E Bibi viveu para ver esse dia.
- O experimento falhou - comemorou.
Ele se referia à coalizão inédita que uniu oito partidos de campos ideológicos diferentes e, por vezes, contraditórios: da esquerda à direita, passando pelo centro e abarcando, pela primeira vez, uma legenda árabe israelense, o Raam, de Mansour Abbas, que conta com quatro assentos no Knesset, como é chamado o parlamento. Esse saco de gatos ideológico, o tal "experimento", foi aglutinado a fórceps para tirar Bibi do gabinete, após 12 anos e sucessivas eleições em que o partido do primeiro-ministro, o Likud, tinha mais votos, mas não conseguia governar sozinho nem garantia alianças porque ninguém queria a continuidade do velho premier. Bennett e Yair Lapid (um liberal de centro e atual ministro das Relações Exteriores) uniram os anti-Bibi e, assim, o novo governo se formou. Sobreviveu por um ano, aos trancos e barrancos. Mas não foi um completo fracasso.
Depois de quatro eleições em três anos, Israel finalmente andou. O governo conseguiu aprovar o orçamento nacional, em novembro de 2021, e, fato inédito, judeus e árabes foram capazes de, pela primeira vez, governar juntos. Imaginem o quanto os líderes desses partidos precisaram engolir sapos e superar divergências para que isso ocorresse em um país no qual razões existenciais estão sempre em jogo.
Mas, claro, como em qualquer lugar do mundo, um projeto político construído apenas para ser contra alguém ou alguma coisa, e não em prol de uma ideia, tem poucas chances de prosperar. Foi o que ocorreu com a coalizão, amalgamada apenas em torno do "todos contra Bibi".
Israel terá, em 1º de novembro, a quinta eleição em quatro anos. E o famoso clichê "tudo pode acontecer, inclusive nada", se aplica. Porque, na prática, o país volta à situação de um ano atrás. O Likud, partido de Bibi é muito popular: deve vencer (conquistando 35 das 120 cadeiras), mas estará longe dos 61 assentos para formar governo, o que exigiria alianças com partidos de direita e de extrema direita. O problema é que essas legendas não aceitam alianças com o Likud por causa de Bibi. Como o Partido Republicano, nos Estados Unidos, que virou refém de Donald Trump, a legenda israelense não consegue abrir espaço para novos políticos. Bibi não deixa.
Fora do governo, ele aproveita-se da fragmentação política e da polarização da sociedade. Dentro, atua contra as instituições, acumula poder e ataca a imprensa independente e o Judiciário para disfarçar operações. Ele vem travando batalhas contra uma série de acusações, que incluem crimes de corrupção, suborno e fraude - uma delas, apura se teria concedido benefícios no valor de US$ 500 milhões à empresa de telecomunicações Bezeq, a maior do país, em troca de uma cobertura favorável de seu governo no site de notícias Walla, de propriedade do ex-presidente da companhia. Em outra é acusado de aceitar presentes de bilionários no valor e de oferecer vantagens ao jornal Yedioth Ahronoth também em troca de uma cobertura positiva. Bibi sorri agora. Mas, antes de chegar às eleições, pode ser preso.