No momento em que há sinais de recuo das tropas russas em Kiev e Chernihiv, confirmando a promessa dos negociadores de reduzir as ações militares no norte da Ucrânia, feita durante o diálogo em Istambul, esta semana, um incidente pode alterar os rumos das conversas, que foram retomadas nesta sexta-feira, de forma virtual, entre os dois lados.
A se confirmarem as informações provenientes do terreno, pela primeira vez, forças da Ucrânia teriam atacado um alvo dentro da Rússia. Helicópteros ucranianos podem ter destruído um depósito de combustível em Belgorod, a 32 quilômetros da fronteira do país invadido.
A informação partiu do prefeito da cidade, Viacheslav Gladkov, que informou que as aeronaves teriam cruzado a fronteira em baixa altitude no início da manhã para realizar o ataque. Duas pessoas ficaram feridas.
O governo russo declarou que o presidente Vladimir Putin está ciente do episódio. Mas não há, até o momento, a possibilidade de se verificar de forma independente a autoria do ataque. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitri Kuleba, afirmou que não poderia confirmar nem negar o fato porque não teria informações precisas sobre o episódio. Mas imagens do campo de batalha mostram vários mísseis sendo disparados de baixa altitude.
A se confirmar o ataque, ainda que um fato isolado, pode-se intuir que a Rússia não tem o completo domínio do ar na Ucrânia. E que a força aérea ucraniana, invisível nas batalhas desde os primeiros dias da guerra, não estaria de todo neutralizada. Os impactos nas negociações ainda não são mensuráveis totalmente. Mas parece óbvio que a Rússia irá utilizar-se do fato para dizer que isso não cria "condições confortáveis", como já sinalizou o porta-voz do Kremlin, para a continuidade das conversas.