Nesta segunda-feira (10), experientes negociadores de Estados Unidos e Rússia estão sentados frente a frente em Genebra (Suíça) para debater a situação em um dos pontos mais quentes do planeta, como já comentei aqui, um dos possíveis impasses capaz de conduzir o mundo a uma nova guerra, em 2022: a questão da Ucrânia.
Pelo lado americano, a líder da delegação é Wendy Sherman, vice-secretária de Estado. Pela Rússia, o chefe é Sergei Ryabkov, subsecretário de Exterior.
Não é a primeira negociação sobre o tema (e provavelmente não será a última), mas certamente é uma das mais importantes até agora, antes que a situação chegue a um ponto de não retorno, ou seja, a invasão da Ucrânia pela Rússia, a exemplo do que ocorreu em 2014. Naquele ano, tropas do Kremlin ocuparam a península da Crimeia (Ucrânia), algo que até hoje não é reconhecido pelas Nações Unidas, embora seja considerado fato consumado pela comunidade internacional.
Entenda a importância do que ocorre em Genebra.
O que é negociado?
Na mesa de negociações está a questão da Ucrânia, país do Leste Europeu que serve de Estado tampão (como um colchão de proteção para reduzir atritos) entre a Rússia e a Europa (e, por tabela, as tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Otan).
Trata-se, na verdade, de uma zona de tensão entre os dois lados, com a Otan desejando expandir influência para o Leste (como já fez com a adesão de Estônia, Letônia e Lituânia), e a Rússia buscando conter esse avanço, criando uma área de proteção até sua fronteiras. A Ucrânia também é uma ex-república soviética, com regiões importantes com grande população de origem russa, especialmente na Crimeia e em áreas como Donbass (a bola da vez para o Kremlin, depois da Crimeia).
A Rússia, liderada pelo presidente Vladimir Putin, posicionou desde o fim de 2021 mais de cem mil militares na fronteira ucraniana - o que os Estados Unidos veem como uma ameaça de invasão. É, na verdade, uma manobra para pressionar os americanos a negociarem.
Putin deseja, nas negociações desta segunda-feira (10), o compromisso por parte dos americanos de que a Otan não irá mais se expandir para o Leste (provável de conseguir, mas não agora) e a retirada dos membros da organização que entraram depois de 1997 (improvável de ocorrer).
A Casa Branca busca, no fundo, testar se os russos falam sério a respeito da intenção de pôr fim à crise por meio do diálogo. Mas desejam também inserir nas conversas propostas sobre reposicionamentos de mísseis (muitos estão pertos da Europa) e avaliar amplitudes de exercícios militares, que por vezes podem ocasionar atritos com forças da Otan em mares europeus.
E se as negociações falharem, haverá guerra?
Há dúvidas. Não se sabe se Putin avalia esse como o momento propício para a invasão da Ucrânia (o que poderia levar à reação da Otan) ou se ele estaria apenas blefando para ganhar tempo e garantir outras concessões dos EUA e aliados, como a garantia de não expansão da Otan. O clima é de ceticismo com relação a algum acordo. Mas, ao menos, enquanto os dois países, EUA e Rússia, estiverem conversando já é um bom sinal para se evitar um conflito.
O que mais está em jogo?
Além da questão política e militar, há o aspecto econômico. Hoje, 41,1% do gás consumido na Europa vem da Rússia. Ou seja, é muito fácil para Putin barganhar essa questão. Costuma-se dizer que, se ele quiser, em um segundo desliga as torneiras do gás - e a Europa congela no inverno.
Está previsto que o gasoduto Nord Stream 2, que conecta Rússia e Alemanha pelo Mar Báltico, permita dobrar o fornecimento de gás para o país, a principal economia europeia, que afirma precisar do mesmo para a transição do carvão e da energia nuclear. Críticos, entre eles os Estados Unidos, dizem que isso aumentará a dependência da Europa em relação à Rússia. A Ucrânia, cujo território não faz parte do Nord Stream 2 (logo, ficará sem o dinheiro do trânsito do produto por seu território), afirma que essa é uma arma política na mão de Putin. Em dezembro, por exemplo, o governo ucraniano apresentou queixa à União Europeia (UE) contra a empresa russa Gazprom por criar um déficit artificial de gás na Europa, que provocou o aumento nos preços.