A guerra, agora, é outra.
Não se pode deitar em berço esplêndido diante da variante Delta. Essa é a principal lição que se tira das estratégias adotadas por governos do Sudeste Asiático e da Oceania, que começam a enfrentar a cepa do coronavírus que surgiu do caos indiano. Ricas ou pobres, a seu jeito, algumas nações se tornaram exemplo de contenção da covid-19: Vietnã, Indonésia, Austrália e Nova Zelândia, por exemplo.
O Vietnã, país com população equivalente à metade da brasileira, teve até maio apenas 35 mortos de covid-19. Em um dia, só na última quinta-feira (29), foram 392 óbito. A Indonésia, país onde hoje mais se morre em decorrência do coronavírus, registrou 2.069 óbitos só no dia 27 de julho, o equivalente a sete vezes o total entre janeiro e fevereiro. Na Austrália, que desde o início da pandemia acumulou 925 mortes, Sydney vive seus dias mais tensos, com exército nas ruas desde esta segunda-feira (2) para monitorar o cumprimento da sexta semana de confinamento de 6 milhões de habitantes, medida prevista para vigorar até o final de agosto.
A variante Delta, sabe-se, desvia do escudo protetor dos imunizantes que estão aí, mas evitam em grande medida casos graves da doença.
Os motivos pelos quais o Sudeste Asiático e a Oceania vacinam pouco são diferentes. Os pobres têm dificuldade de acesso aos imunizantes. Vietnã, exemplo de contenção da primeira onda, tem apenas 0,68% da população completamente imunizada. Indonésia, país composto por 17 mil ilhas que se interconectam por meio de um complexo tráfego de embarcações (ou seja, prato cheio para o vírus), registra 7,56% da população completamente imunizados.
Entende-se a precariedade com que lutam contra o vírus. Mas o que dizer das ricas Austrália, com 15,27% completamente imunizados, e Nova Zelândia, com 14,51%. Ambos, registram menos cobertura vacinal do que o Brasil. Na comparação com o percentual da população com ao menos uma dose, a diferença, então, é gritante.
Nesta segunda-feira (20), mais um território passou a exigir a vacina obrigatória. Funcionários públicos, professores e profissionais de saúde de Hong Kong terão de ser vacinados contra a covid-19, ou se submeter a testes de detecção do coronavírus duas vezes por semana, pagos do próprio bolso. A região é uma das poucas do mundo que dispõem de doses suficientes para toda sua população, que ainda resiste a se imunizar. Seis meses depois do início da campanha de vacinação, apenas 36% dos 7,5 milhões de habitantes receberam duas doses, e 48%, apenas uma. Também menos do que o Brasil.
Na China, milhões de pessoas estão confinadas em suas casas na China de novo, enquanto o país tenta conter o maior foco de coronavírus em meses, com testes em larga escala e restrições a viagens. O surto da variante Delta, de rápida propagação, já atingiu mais de 20 municípios e uma dezena de províncias. Os governos das principais cidades, incluindo Pequim, organizaram testes para milhões de pessoas, ao mesmo tempo que isolaram áreas residenciais e colocaram em quarentena os contatos de pessoas infectadas.
De todos, o maior risco é, como se sabe, o descontrole. Brasil, Peru, Reino Unido, África do Sul e Índia já mostraram como um vírus correndo solto por seu território sofre mutações. Não se trata de pensar só na Delta, é preciso evitar, a todo custo, o surgimento da próxima letra do alfabeto grego a identificar uma nova variante.