Capitaneada por Joe Biden, a Cúpula do Clima marcou a retomada dos Estados Unidos como líderes mundiais, depois de quatro anos de isolamento, posto em marcha por Donald Trump, que não apenas diminuiu o tamanho simbólico do país no imaginário popular, como, na prática, reduziu seu campo de influência no sistema internacional.
Desde a Segunda Guerra Mundial, os americanos contribuíram de forma determinante para erigir a nova ordem mundial, baseada na premissa de expandir a democracia por meio de instituições que eles próprios conceberam, a chamada a "pax democrática", baseada em valores que, por vezes, deram uma roupagem idealista para a realpolitk.
Seja como for, os princípios de aldeia global permearam as relações internacionais na segunda metade do século 20 e tiveram na Europa unificada, em parte reconstruída pela Plano Marshall, o exemplo mais bem acabando - apesar dos pesares e do Brexit.
Por décadas, os Estados Unidos contribuíram, com dinheiro e ação, para manter a ordem internacional, concretizada no sistema das Nações Unidas e consolidada após o inimigo público número 1 até então, a URSS, colapsar. O mundo no qual crescemos e nos desenvolvemos é resultado da hegemonia americana.
Porém, essa visão entrou em xeque a partir da eleição de Donald Trump. O America First trumpiano reforçava a visão nacionalista dos EUA em primeiro lugar como se essa fosse uma visão contrastante daquelas que colocam a nação americana no pódio pelos seus feitos além-mar. Do dia para a noite, os EUA se retiraram do Acordo de Paris, de comissões dos direitos humanos, da Organização Mundial da Saúde (OMS), dos grandes arranjos internacionais que eles mesmos corroboraram para erguer.
A Cúpula do Clima recoloca as peças no tabuleiro, os EUA de volta à liderança no sistema internacional - para o bem e para o mal.
No campo ambiental, houve uma mudança radical nesta cúpula. Os EUA elevaram a meta, adiando o atingimento, mas dobrando sua força. Pelo Acordo de Paris, os EUA deveriam reduzir entre 26% e 28% as emissões de gases poluentes do patamar de 2005. Mas isso ocorreria até 2025. Agora, Biden anunciou que vai reduzir as emissões em 50%, mas o ano para chegar lá será 2030.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse estar "feliz" com a volta.
- Estou muito satisfeita em ver que os Estados Unidos voltaram, voltaram a trabalhar conosco na política climática, porque não há dúvida de que o mundo precisa da sua contribuição se realmente quisermos cumprir nossos ambiciosos objetivos - afirmou.
O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, disse que lidar com o aquecimento global pode se tornar uma "força motriz" para o desenvolvimento econômico.
- A resposta às mudanças climáticas não é mais uma limitação à nossa economia. Ao contrário, será a força motriz por trás do crescimento dinâmico de longo prazo, não apenas para o Japão, mas também para o mundo inteiro - disse ele.
Mas não sejamos ingênuos. Ainda que saudável, necessária e fundamental, a questão ambiental, eleita por Biden como cavalo de batalha, é trincheira primordial de seu governo para conter futuros desafiantes à ordem estabelecida no momento em que a China se coloca como a grande antagonista do Ocidente e a Rússia como polo da chamada "democracia iliberal".