Estamos há um ano convivendo com o coronavírus.
Em 1º de dezembro de 2019, o primeiro paciente em Wuhan, China, começou a apresentar sintomas da doença, conforme estudo da The Lancet, a mais importante revista científica de medicina. De lá para cá, o mundo contabiliza, segundo a Universidade Johns Hopkins, 63,3 milhões casos e 1,4 milhão de mortos.
Há muitas dúvidas sobre o surgimento da covid-19. Uma das pontas importantes e não explicadas dessa tragédia que se abate sobre a humanidade é o papel da China na condução da doença.
Se por um lado não há evidências de que o vírus tenha surgido de forma intencional ou por vazamento - como apontam teorias conspiratórias -, por outro são cada vez mais fortes as suspeitas de que o país conduziu de forma incorreta a crise nas primeiras semanas, o que pode ter sido determinante para o coronavírus transbordar das fronteiras do gigante asiático.
Uma série de documentos oficiais vazados esta semana para a rede americana CNN e verificados pela emissora, de forma independente, lança novas luzes sobre as falhas de autoridades chinesas e de seus processos para conter o vírus, precariedade de infraestrutura e falta de transparência. Denominados The Wuhan files (Os Arquivos de Wuhan), os papéis confidenciais obtidos pela emissora mostram que, enquanto o governo divulgava que havia, em 10 de fevereiro de 2020, 2.478 casos de covid-19, autoridades da província de Hubei, onde fica Wuhan, comunicavam 5.918 registros, mais do que o dobro.
Das 117 páginas de textos vazados do Centro Provincial de Controle e Prevenção de Doenças de Hubei emergem processos burocráticos e uma estrutura de saúde rígida com dificuldades em lidar com a crise emergente, segundo a CNN. Um dos trechos evidencia a lentidão com que os pacientes estavam sendo diagnosticados. Em março, três meses depois do primeiro caso e quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) já declarava situação de pandemia, o tempo médio entre os primeiros sintomas e o diagnóstico era de 23,3 dias, o que dificultava monitoramento e combate à doença. Países que estancaram o avanço do vírus na região, como o Japão e a Coreia do Sul, basearam-se nos testes e no rastreio de contados dos infectados.
Em outro trecho dos documentos, aparece a informação de que as autoridades de Hubei estavam lidando com surtos de gripe comum em cidades de Yichang e Xianning. Isso pode ter sobrecarregado o sistema de saúde da província.
A CNN informou que os documentos foram entregues à emissora por um denunciante anônimo que supostamente trabalhava dentro do sistema de saúde chinês. Os arquivos foram verificados por seis especialistas independentes, que confirmaram a veracidade dos relatórios. A China nega ter faltado com transparência ao lidar com a crise.