O processo de votação americano, cujo candidato vencedor nem sempre é aquele que ganha no voto popular, mas quem faz maioria no colégio eleitoral, torna as duas últimas semanas de campanha uma gincana para candidatos - e jornalistas que cobrem o pleito.
Mas a eleição nos Estados Unidos é mais simples do que parece.
Me acompanha: na maioria dos 50 Estados americanos, o voto em um ou outro partido está consolidado. Há décadas, os democratas vencem na Califórnia, por exemplo. Quem faz ganha no voto popular lá leva todos os 55 delegados a que o Estado tem direito no colégio eleitoral (mecanismo conhecido como "the winner takes all"). O mesmo ocorre com os republicanos no Tennessee, Estado que dá ao ganhador 11 representantes na instituição. Assim, como se diz aqui no Rio Grande do Sul, as campanhas "não gastam pólvora com chimango": Donald Trump não vai tentar converter a seu favor eleitores da Califórnia, porque, na lógica do vencedor leva todos, lá, o jogo é perdido para ele. Joe Biden também não tentará seduzir os votantes do Tennessee. Assim, grosso modo, a disputa fica para seis ou sete Estados, que mudam de lado a cada eleição, os chamados swing states, ou Estados-pêndulo.
Isso explica porque há pouco valor nas pesquisas nacionais, que mostram, por exemplo, ampla vantagem para o democrata: 50,7% a 43% de Trump, segundo a média dos mais recentes levantamentos computados pelo site Real Clear Politics.
Pela lógica do winner takes all, não basta ganhar, é fundamental ganhar certo. E aí entram os swing states. Segundo a última pesquisa da agência de notícias Reuters e Instituto Ipsos, Biden está à frente em todos esses campos de batalha. A diferença é que, em alguns, a vantagem está consolidada, como Wisconsin (51% a 43%) e Michigan (51% a 44%). Em outros, como Pensilvânia (49% a 45%) e Arizona (50% a 46%), a diferença está dentro da margem de erro.
Então, se você quiser prestar atenção em apenas um Estado, eu diria: "fique de olho na Flórida". Quem vence lá, leva 29 delegados no colégio eleitoral (são necessários, no mínimo, 270 para vencer). O Estado é, historicamente, decisivo. Perder ali significa ver sepultada a ideia de chegar à Casa Branca. Vencer decide ou consolida a vitória na noite da eleição. O Estado ficou ao lado do eleito em quase todas as disputas presidenciais por décadas. Mas isso também significa brigas acirradas, por vezes, disputadas no tapetão. Em 2000, Al Gore e George W. Bush pelearam pelo Estado na Suprema Corte. O republicano acabou ganhando na Justiça graças a uma diferença de apenas 537 votos populares, que deram a ele todos os delegados do colégio eleitoral - e a presidência.
Neste 2020, a última pesquisa da Reuters/Ipsos dá 49% da preferência para Biden e 47% para Trump na Flórida. O Estado, que é microcosmos da polarização política do país, em especial na divisão pelos votos de idosos e hispânicos, também é prévia da provável nova disputa judicial que virá na noite dia 3 pelos delegados da Flórida.