O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, tentou no Vaticano o mesmo que fez em Roraima: arrastar o governo - no caso, a Igreja - para o entrevero das eleições americanas. Mas, diferentemente do Planalto, no caso do Estado do Vaticano, o papa Francisco não aceitou que sua imagem fosse usada como trampolim para o governo Donald Trump.
Dois diplomatas de alto escalão da Santa Sé , o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, e o ministro das Relações Exteriores, Paul Gallagher, disseram que o Pontífice negou audiência ao enviado de Trump. A justificativa foi clara: Francisco evita se encontrar com políticos antes de eleições - no caso americano, a 33 dias, do pleito.
As relações entre EUA e a Igreja Católica não andam bem. Recentemente, Pompeo acusou o Vaticano de colocar sua autoridade moral em risco ao renovar um acordo provisório com a China, assinado há dois anos, que dá ao Papa a palavra final sobre a nomeação de bispos. Em Roma, Pompeo pediu nesta quinta-feira (1º) "coragem" ao Papa para combater as perseguições religiosas, em particular na China.
A visita do chefe do Departamento de Estado americano ao Vaticano tem duplo interesse: agradar aos eleitores católicos de Trump, em especial em Estados como a Flórida, e, segundo, reforçar o discurso anti-China.
Para o setor ultraconservador americano, inspirado em movimentos com Alt-right, Steve Bannon e companhia, o Papa e a Igreja são parte do chamado globalismo - um suposto plano global das esquerdas impregnado na cultura, nas artes, nas universidades e até na religião. Nesse sentido, a recente renovação do acordo entre o Vaticano e a China seria, por essa lógica conspiratória, uma evidência dessa aliança para acabar com costumes tradicionais, a família e outros princípios do próprio Ocidente cristão.
No mês passado, uma visita de Pompeo a Roraima, na fronteira com a Venezuela, provocou polêmica e levou o Congresso a convocar o chanceler Ernesto Araújo para explicações. Parlamentares, entre eles o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), viram na visita uma oportunidade, para o governo Trump, de usar o Brasil como plataforma eleitoral americana - também para agradar a base conservadora americana.