Quem observa o que ocorre na Europa e na Ásia como o futuro do que viveremos por aqui em relação ao coronavírus, já entendeu o recado: a covid-19 não morreu nesses continentes, apesar das imagens de praias cheias na costa do Mediterrâneo, de bares e restaurantes lotados na Alemanha e do normalmente caótico trânsito de Tóquio, Xangai ou Seul. Há uma aparente normalidade, observada de longe. Mas é preciso cautela.
Na Ásia, Japão, Vietnã e Hong Kong estão em alerta devido a novos surtos.
Por que isso preocupa? Simplesmente, primeiro, porque o Japão é um dos exemplos mais conhecidos de países que souberam lidar com a primeira onda da pandemia, equalizando medidas de confinamento com a identificação de infectados e rastreio de contatos. Segundo porque o Vietnã, embora não tão badalado por aqui, conseguiu um feito que quase nenhum país do mundo obteve: zero mortes até agora pela covid-19. Mesmo com estatísticas que provocam inveja no mundo, essas nações estão atentas aos novos surtos, porque entendem que o problema não está resolvido.
Na Europa, o Reino Unido impôs uma quarentena de 14 dias a viajantes procedentes da Espanha. No país da península ibérica, há surtos em praticamente todas as regiões, com ênfase na Catalunha, onde fica Barcelona, o eldorado espanhol das férias de verão.
Na comunidade de Madri, nesta terça-feira (28), o governo reimpôs medidas de restrição à circulação de pessoas e reuniões e tornou obrigatório o uso de máscaras de proteção em locais públicos.
O verão europeu, como já comentei aqui, fez muita gente baixar a guarda. O turismo, motor da economia no Hemisfério Norte na alta temporada, e o entusiasmo após semanas de confinamento fizeram com que milhares de pessoas saíssem às rua, retomassem a vida noturna e os contatos rotineiros.
Mas o coronavírus não morreu. A segunda onda está à espreita, por pior que seja essa realidade. Um exemplo é a Alemanha, cujo Instituto Robert Koch, órgão do governo responsável pelo monitoramento da doença, classificou o aumento de casos como "muito perturbador".
O país foi exemplo de combate à pandemia na Europa. Fez o tema de casa, realizou testes em massa, foi transparente com a população. Enquanto 4% dos pacientes morriam em decorrência do coronavírus no mundo, em março, o país de Angela Merkel registrava uma taxa de mortalidade de covid-19 de apenas 0,4%. No mês seguinte, a nação havia testado mais de 2 milhões de pessoas, cerca de 400 mil análises por semana.
O país só reabriu sua economia quando as taxas de contágio estavam abaixo de 1 (o número médio que cada infectado - sintomático ou não - é potencial disseminador da doença). O índice alemão estava em 0,7.
Entretanto, uma vez reaberta a economia, saindo do confinamento, novos surtos surgiram. Chegaram a 900 casos em um dia. Caíram para 500, em maio, e voltaram a subir na semana passada, com mais de 800 na última sexta-feira (24). A taxa de infecção subiu para 1,10.
O que houve?
Segundo o Instituto Robert Koch, grandes reuniões, aglomerações em locais de trabalho e viajantes ingressando de outros países foram os principais responsáveis pelo repique do coronavírus.
O resumo da situação vivenciada hoje na Alemanha, na Espanha e em países asiáticos é que, a despeito do verão, do desconfinamento e de uma certa normalidade aparente em fotografias e vídeos, o coronavírus não é uma realidade do passado. Não terminou, infelizmente.