Ironicamente, o impacto econômico provocado pela crise coronavírus pode ter efeito sobre a paz e a segurança mundial. É o que revelou o estudo Índice Global da Paz 2020, realizado pelo centro de pesquisas australiano Institute for Economics and Peace (IEP), divulgado na quarta-feira (10).
É que pandemia pode reduzir as chamadas guerras por procuração (ou proxy wars) devido à dificuldade maior para obtenção de fundos em razão do declínio econômico e da queda dos preços do petróleo. Uma proxy war é um conflito armado no qual países (em geral potências) se utilizam de terceiros (os proxies) como intermediários ou substitutos para não entrarem em confronto direto entre si. Há vários exemplos ao longo da História.
Na Guerra Fria, por exemplo, eram bastante comuns. As superpotências Estados Unidos e URSS evitavam entrar em guerra diretamente, uma vez que isso poderia deflagrar uma guerra nuclear. Assim, utilizavam-se de outros países, como a Coreia do Norte (apoiada pelos soviéticos) e a Coreia do Sul (pelos americanos) na Guerra da Coreia. Ou, no Vietnã, entre o Norte (comunista) e o Sul (capitalista). Embora comuns entre governos, as guerras por procuração também podem ser travadas entre grupos insurgentes - por vezes também aliados de nações. Foi o caso da primeira Guerra do Afeganistão, em que os Estados Unidos auxiliaram os guerrilheiros muçulmanos (que posteriormente dariam origem ao Talibã - e que seriam inimigos dos americanos em 2001 e serviram de encubadores da rede Al-Qaeda, de Osama bin Laden) contra o exército soviético.
Mas voltemos ao coronavírus. A crise econômica levou a uma redução das guerras por procuração, segundo o estudo. A atividade da Arábia Saudita no Iêmen, a intervenção russa e turca na Síria e o apoio do Irã a milícias, como Hezbollah, são exemplos importantes a serem monitorados no próximo ano, conforme o levantamento.