A África inteira, um continente de cerca de 1,2 bilhão de habitantes distribuídos em 54 países, tem menos casos de coronavírus e número inferior de mortos do que o Brasil.
Até esta terça-feira (14), eram 15.738 registros com 838 vítimas fatais no continente. O Brasil, segundo balanço de desta tarde, tem 25.262 casos de covid-19 e 1.532 óbitos.
O que há no miserável e conflituoso continente africano? Previsões mais pessimistas indicavam uma devastação. Certamente, há subnotificação em nações onde governos falidos e corruptos, como na Somália, não conseguem sequer controlar as fronteiras do país. Há também como hipótese grandes áreas desérticas ou de florestas, que dificultam o contato entre populações - e, em consequência, a propagação da doença. Mas há, sobretudo, o comportamento do vírus no Hemisfério Sul, algo que os cientistas compreendem cada dia mais e que pode ser diferente em relação à porção norte do planeta.
Um enigma a mais é o que ocorre na África do Sul, nação com maior número de casos no continente (2,2 mil e 27 mortes). Nas cinco semanas entre o registro do primeiro caso e o dia 28 de março, o gráfico de novas infecções diárias seguiu uma curva ascendente acelerada, semelhante à maioria dos países. Mas, a partir daquele dia, a curva caiu bruscamente: de 243 novos casos em 24 horas para apenas 17. Desde então, a média diária ficava em cerca de 50 novos casos até o dia 12 de março. Na segunda-feira (13), o país voltou a registrar uma alta com 145 novos casos, baixando para 99 na terça-feira (14), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O país iniciou de forma precoce o isolamento, com regras rígidas, e tem feito um feito trabalho agressivo de rastreamento de contatos com pessoas infectadas. Mas essas explicações não são suficientes. Uma hipótese diz respeito à suposta maior imunidade dos sul-africanos devido a uma variedade de fatores médicos, como vacinação obrigatória contra tuberculose ou o impacto dos tratamentos antiretrovirais ou o possível papel de enzimas em diferentes grupos populacionais. Nenhuma das teorias foi verificada até agora.