Para além do debate político ou a ideologização do tema cloroquina, medicamento cujo benefícios no tratamento da covid-19 é investigado, mas que, até aqui, não conta com evidências científicas suficientes, a coluna lança um olhar para a experiência sueca.
O medicamento para a malária, que foi popularizado pelo presidente dos EUA, Donald Trump e tem sido defendido por Jair Bolsonaro no Brasil no combate ao coronavírus, foi administrado em pacientes com a doença em vários hospitais da Suécia. Mas, desde a semana passada, segundo o jornal Expressen, todas as instituições da região de Västra Götaland interromperam o uso do medicamento após relatos de suspeita de efeitos colaterais mais graves do que o imaginado, especialmente no coração.
Os doentes relataram cólicas, perda de visão periférica e enxaqueca após a prescrição do medicamento. Para uma em cada 100 pessoas, a cloroquina também pode causar arritmia cardíaca, que pode conduzir ao infarto.
Segundo o jornal Gothenburg Post, também na capital, Estocolmo, hospitais decidiram parar de dar o remédio contra a malária a pacientes com coronavírus. O jornal aborda o caso de Carl Sydenhag, um paciente de 40 anos que testou positivo para a covid-19 em 23 de março. No hospital, ele recebeu antibióticos e cloroquina.
- Fui receitado para tomar dois medicamentos de manhã e dois à noite - contou.
Mas, em vez de melhorar, ele começou a apresentar sintomas mais fortes, como febre e dificuldade para respirar.
- Tenho cãibras e dores de cabeça que nunca tive antes. Parecia que eu tinha entrado em uma usina de alta tensão - disse.
Os médicos suspeitam de que Carl provavelmente tenha recebido dose excessiva do medicamento. Ele não tem mais sintomas de covid-19, embora sua visão esteja pior do que o antes.
- Houve relatos de suspeita de efeitos colaterais mais graves do que pensávamos. Não podemos descartar efeitos colaterais graves, especialmente no coração. É um medicamento de dosagem difícil. Além disso, não temos fortes evidências de que a cloroquina tenha efeito na covid-19 - disse Magnus Gisslén, professor e médico chefe da clínica de infectologia do Hospital Universitário Sahlgrenska.
A maioria dos pesquisadores suecos afirma que o certo a fazer, agora, é testar o medicamento em ensaios clínicos para entender a segurança do protocolo. Um grande estudo está sendo feito pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. O medicamento também está sendo analisado pelo estudo Remap-Cap, esforço internacional com participação de pesquisadores de todo mundo. Itália e China também realizam testes. Um estudo europeu chamado Discovery analisa a cloroquina, entre outras terapias, com 3,2 mil pacientes hospitalizados com o vírus no Reino Unido, Espanha, Alemanha, França, Suécia e Luxemburgo. Há ainda a pesquisa Solidarity, liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com cientistas de várias partes do planeta.