Enquanto o mundo olha para o Oriente Médio e o risco de uma guerra entre Estados Unidos e Irã, a Venezuela protagoniza um novo capítulo da crise que, desta vez, tem potencial para colocar fim à aventura de Juan Guaidó e sua tentativa de destronar Nicolás Maduro do poder. Com a característica autocrata que lhe é peculiar, a ditadura chavista-madurista impediu neste domingo (5) a entrada dos deputados da oposição ligados a Guaidó na sessão na qual seria realizada a votação para a renovação da presidência da Assembleia Nacional. Sua reeleição para o cargo era dada como certa. Mas, enquanto os parlamentares ligados a ele eram impedidos de entrar no prédio por um cordão militar, deputados governistas ingressavam tranquilamente na edificação.
Guaidó provou de seu próprio veneno. À distância, viu seu rival na oposição, Luis Parra, do partido Primeiro Justiça, se autoproclamar presidente da Assembleia Nacional. Não se pode dizer que o deputado necessariamente representa a oposição. Uma investigação do portal Armando.info revelou recentemente que ele e seus aliados estariam fazendo lobby internacional para favorecer empresários ligados a Maduro, como Carlos Liscano, sócio de Alex Saab, fornecedor dos alimentos para o programa subsidiado de comida para população carente, conhecido como Comitês Locais de Abastecimento e Produção (Clap), condenado pelos Estados Unidos e investigado em vários países. Parra é também acusado de aceitar subornos do governo para se opor à reeleição de Guaidó.
Sem o comando da Assembleia Nacional, Guaidó perde seu principal argumento para se apresentar como presidente interino do país – ou "encarregado" – como preferem seus seguidores. Depois de perder o timing para retirar Maduro do Palácio de Miraflores, ver sua força política reduzida após duas tentativas frustradas de mobilização e sem poder de fato – especialmente militar –, Guaidó, prestes a completar um ano de sua autoproclamação, em 23 de janeiro de 2019, pode passar à história como um personagem secundário da política venezuelana.