Alguns criminosos e suas fugas são conhecidos e seus nomes inspiraram livros, filmes ou séries de TV. Outros têm fama restrita aos países nos quais viveram ou cometeram seus ilícitos. Poucos conseguiram fugir de prisões de segurança máxima. Muitos, respondendo a processos em liberdade ou sob prisão domiciliar, aproveitaram-se de relações com o poder para ludibriar autoridades.
A fuga internacional de Carlos Ghesn, ex-todo-poderoso chefe da Nissan, lembra outras escapadas famosas. A coluna reúne algumas.
1 – Henri Charrière, o Papillon
O francês é um dos mais conhecidos criminosos a fugir da Justiça. Arrombador de cofres, Henri Charrière foi preso e indiciado pelo homicídio de um rival. Condenado à prisão perpétua, ele foi enviado para Cayenne, uma colônia penal na Guiana Francesa, considerada à prova de fugas. No local, conhecido como Ilha do Diabo, rodeada por mares infestados de tubarões, ele tentou oito fugas – em uma delas, chegou a viver na selva venezuelana, com índios, mas foi recapturado. Em 1944, construiu uma jangada usando cocos e coqueiros e se lançou ao mar até chegar de novo à Venezuela. Passou a viver em Caracas, onde abriu um restaurante e virou empresário bem-sucedido. Sua história ele mesmo escreveu, em 1968, aos 62 anos. O livro "Papillon" (borboleta, em francês, tatuagem que tinha no peito) fez sucesso internacional. Na década de 1970, o governo francês o perdoou oficialmente, permitindo seu retorno ao país, onde morreu.
2 – Joaquín "El Chapo" Guzmán
Outro preso famoso, Joaquín Chapo Guzmán, líder do cartel de Sinaloa, conseguiu fugir em 2001 da penitenciária de segurança máxima de Puente Grande, em Jalisco (México), onde cumpria pena de 20 anos de prisão. El Chapo estabeleceu uma rede de contatos na cadeia, comprando "amigos" que o ajudaram na fuga.
A versão oficial diz que se escondeu em um carrinho de limpeza, passou por várias áreas da prisão e encaminhou-se para a saída vestindo um uniforme de guarda prisional. Quando foi preso de novo, 2014 em um resort no México, El Chapo era o criminoso mais procurado no México e nos Estados Unidos.
No ano seguinte, ele conseguiu fugir de novo, desta vez da prisão federal Altiplano, em Almoloya de Juárez. Policiais que revistaram a cela onde ele estava encontraram "um buraco de 50 por 50 centímetros e 1,5 metro de profundidade que levava a um duto vertical, e este por sua vez, ao túnel. Preso novamente em 2016, foi extraditado para os EUA no ano seguinte.
3 – Salvatore Cacciola
O ex-banqueiro Salvatore Cacciona conseguiu se esconder da Justiça por sete anos. Ex-executivo do banco Marka, ele foi julgado e condenado pela Justiça brasileira a 13 anos de prisão por gestão fraudulenta, corrupção passiva e desvio de dinheiro público. Preso em 2000, Cacciola conseguiu um habeas-corpus. Viajou de carro a Paraty (Rio de Janeiro), passou pelo interior de São Paulo, foi de avião a Santana do Livramento e chegou a Montevidéu (Uruguai). De lá, viajou a Buenos Aires e, em seguida, fugiu para a Itália. O governo brasileiro pediu a extradição do ex-banqueiro, mas Cacciola tinha dupla cidadania e viveu tranquilamente na Itália. Havia acordo mútuo de não extradição de seus cidadãos.
Em setembro de 2007, ele foi preso em Mônaco pela Interpol (polícia internacional). Sua volta ao Rio aconteceu após 10 meses de processo. Ele ficou preso em Bangu 8. Três anos depois, em 10 de janeiro de 2011, conseguiu o benefício do regime semi-aberto. Em abril de 2012, a pena foi extinta.
4 – Ronald Biggs
Outro caso envolvendo o Brasil. O britânico Ronald Biggs ficou conhecido como o "ladrão do século" pela atuação no assalto ao trem pagador entre Glasgow e Londres, em 1963. Biggs foi preso após o roubo e condenado a 30 anos de prisão, mas escapou 14 meses depois da cadeia de Wandsworth, pulando o muro com uma corda de pano e fugindo em uma caminhonete.
Ele passou por vários países, ludibriando a Justiça britânica e a Interpol. Viveu por mais de 30 anos em liberdade no Rio de Janeiro, de forma confortável graças ao dinheiro do roubo. Em 2001, Biggs se rendeu à polícia britânica e voltou a seu país. Foi libertado em 2009 por questões de saúde. Morreu em 2013.
5 – Pablo Escobar
Um dos mais famosos criminosos da América Latina, o colombiano Pablo Escobar fugiu da prisão em 1992. Permaneceu 17 meses foragido até ser morto em tiroteio em Medellín. A prisão era conhecida como “A Catedral”, localizada na cidade de Envigado. Era um misto de residência e clube de luxo. O local foi construído pelo próprio Escobar para cumprir pena em acordo com o governo colombiano para não ser extraditado para os Estados Unidos. Escobar escapou do local em 1992 com nove dos seus homens por uma rede de túneis após o grupo ter feito reféns dois funcionários do governo.
6 – Redoine Faid
Homem mais procurado da França, Redoine Faid fugiu de helicóptero da prisão de Reau, onde cumpria pena de 25 anos de detenção, em 2018. Era especializado em roubo de carros-fortes e assalto a bancos. Em 1º de julho daquele ano, três homens armados sequestraram um piloto de helicóptero e o obrigaram a pousar no pátio da prisão. Em minutos, fugiram com Faid a bordo. O criminoso foi recapturado três meses depois.
Faid já havia protagonizado outra fuga em 2013, quando escapou da prisão de Lille-Séquedin, em uma operação muito mais violenta, com uso de explosivos e captura de reféns.
7 – Rocco Morabito
Um dos principais líderes da máfia calabresa Ndrangheta protagonizou uma fuga, em 2019, do Presídio Central de Montevidéu, no Uruguai. Conhecido como o rei da cocaína de Milão, o traficante de drogas e seus comparsas fizeram um buraco no teto da cadeia, poucos dias antes de ser extraditado para a Itália.
Por uma tubulação de ar, o grupo chegou a um supermercado. Morabito ficou foragido 23 anos antes de ser preso em Montevidéu. Ele havia sido condenado a 30 anos de prisão na Itália, por tráfico de drogas. Segundo a polícia italiana, ele comandava o tráfico em Milão e levou para a Itália toneladas de cocaína provenientes da América do Sul. Durante pelo menos 15 anos, ele viveu em Punta del Este com nome e nacionalidade falsos.