Não foi a alta abstenção em um país onde o voto não é obrigatório que levou os eleitores de Israel a darem um novo mandato a Benjamin Netanyahu. Tampouco a visita do presidente Jair Bolsonaro a Israel, ainda que, para um político envolvido em escândalos de corrupção como o premier israelense, qualquer imagem positiva na imprensa – como as promessas feitas pelo brasileiro e as fotos no Muro das Lamentações – seja bem-vinda. No país que, diuturnamente, precisa reafirmar sua existência diante das ameaças de vizinhos, foi o medo que deu a Netanyahu a chance de superar o histórico Ben Gurion no poder.
Para muitos israelenses, Netanyahu foi muito mais duro no conflito com os palestinos do que até o ex-primeiro-ministro Ariel Sharon, sinônimo de direita no país e fundador do Likud. O Hamas, que nas últimas semanas retomou os ataques contra Israel a partir de Gaza, contribuiu para a eleição. Diante da ameaça externa, é compreensível que os eleitores se agarrem à mão pesada de Netanyahu.
Tão logo Bolsonaro voltou para o Brasil, Bibi tomou o avião e foi aos EUA se encontrar com Donald Trump. Saiu da Casa Branca com apoio americano à soberania israelense sobre as Colinas do Golã – o que coloca a Síria em alerta. Depois, voou para a Rússia, onde conseguiu de Vladimir Putin a devolução dos restos mortais do militar Zachary Baumen, desaparecido há 37 anos na batalha contra o exército sírio no Vale do Bekaa, no Líbano.
De volta e ameaçado nas urnas pelo xará Benjamin Gantz, jogou sua cartada mais alta para angariar os votos dos religiosos e da extrema-direita: prometeu a anexação da Cisjordânia, território com Gaza onde os palestinos sonham um dia construir seu Estado. A área já é uma colcha de retalhos de colônias judaicas – o que impede qualquer territorialidade, um dos princípios fundamentais para a formação de um país. A anexação não apenas é ilegal, condenada pela maior parte da comunidade internacional, como acabaria com qualquer possibilidade de dois Estados, solução apoiada pelas Nações Unidas e mapa do caminho mais racional para a paz. Netanyahu vai ser cobrado por sua base de apoio, mas, se cumprir a promessa, irá levar o Oriente Médio de volta à guerra.