Fazendo um discurso dois minutos maior do que o pronunciamento do ano passado, Donald Trump buscou um tom conciliatório nesta terça-feira (5) na fala sobre o Estado da União no Capitólio. Mas o constrangimento com os democratas esteve presente durante todo o tempo, na 1h22min de discurso do presidente. Trump chegou ao Capitólio trazendo nas costas o peso de ser corresponsável pelo maior shutdown da história. A paralisação do governo, por conta do impasse para aprovação do orçamento, durou 35 dias e só foi finalizada depois de um frágil acordo com os democratas. E o risco de o governo voltar a parar está no horizonte.
Ele insistiu em sua retórica de criminalizar os imigrantes. A securitização do problema esteve por trás de toda a sua fala nesta terça-feira em Washington. A democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, logo atrás do presidente, simbolizou esse constrangimento. Em muitas vezes em que seus colegas de parlamento se levantaram para aplaudir Trump — um rito pouco repetido pela oposição —, ela se manteve sentada.
Pelosi e muitas das mulheres democratas vestidas de branco deram o tom o descontentamento, o que, de certa forma, mostra que a eleição de 2016 não acabou. Os democratas não engoliram ainda a derrota de Hillary Clinton — e, enquanto um novo nome não surgir para 2020, ficarão juntando os cacos no fundo do poço.
O presidente celebrou os números da economia, fato que o deixou mais à vontade do que o habitual. A queda no índice de desemprego vem desde o fim da crise de 2009. Trump surfou na onda do governo anterior, mas tem o mérito de manter os números, ainda que analistas mirem uma possível recessão no futuro.
O discurso foi dominado pela migração e a tentativa de Trump de aprovar a construção do muro na fronteira com o México. A constante foi lastreada por ameaças simbolizadas por migrantes ilegais que cometem crimes contra americanos dentro de seu território. O presidente chegou a comemorar a mobilização de tropas na fronteira Sul.
Trump foi melhor do que em seu primeiro discurso sobre o Estado da União, no ano passado, embora tenha enfrentado um Congresso mais hostil.
Sua fala foi ainda permeada por temas que mereciam maior aprofundamento: faltaram detalhes sobre a Venezuela e o governo paralelo de Juan Guaidó, que a Casa Branca respalda, e sobre a busca pela paz na Península Coreana. O terrorismo, o Irã e a Síria também são temas muito relevantes para a política externa americana - e os detalhes ficaram de fora do discurso do presidente