O destino da Venezuela está na mão das forças armadas. São elas, sustentáculos de duas décadas de bolivarianismo, o fiel da balança. Nem o isolamento externo, com Donald Trump, Jair Bolsonaro e a companhia de pelo menos outros seis líderes, nem as marchas sem precedentes na história recente do país vão derrubar o regime. Servem como pressão, é verdade. Mas se e como Nicolás Maduro irá cair – morto, obrigado a renunciar ou levado a outro país – é uma decisão que passa, neste momento, pelos quartéis. Se tem o apoio da caserna, o líder irá se entrincheirar no Palácio de Miraflores, agarrado ao poder. Se não o tem, seu destino está próximo do fim.
Se quiserem, os militares venezuelanos sabem como fazer a mudança de governo. Golpes de Estado têm ocorrido quase desde a fundação da República. Do primeiro, em 1835, contra o governo de José María Vargas, ao mais recente, contra Hugo Chávez, 2002, a história do país vizinho é apinhada de motins, rebeliões e outros tipos de quarteladas.
A insubordinação de 27 militares na segunda-feira em Cotiza, aliada ao roubo de armas no forte de Paracamay, em 2017, denotam fissuras. São ações que têm como objetivo revelar que, nas entranhas do exército, da marinha e da força aérea, também há descontentamento. Mas, principalmente, esses tipos de gesto tem o poder de demostrar a outros descontentes, colegas de farda, que eles não estão sozinhos.
Segundo a ONG Controle Cidadão, cerca de 180 militares foram detidos em 2018, acusados de conspirar contra o governo. Mais de 100 mil homens pediram baixa desde 2015 e outros 4 mil desertaram da Guarda Nacional em 2018. O canto da sereia mais recente veio pela boca de Juan Guaidó, que garantiu anistia a quem se amotinar. Na prática, a medida pode servir aos dois lados: aos descontentes, que verão na promessa sinal verde para se rebelar; e aos que, mesmo do lado de Maduro, imaginam que poderão ser perdoados em um futuro pós-golpe. Se esses descontentes potenciais deixarem de duvidar de que não estão sozinhos, o cenário estará completo. Não será um general a dar o primeiro passo. A oposição busca em escalões inferiores, comandantes de unidades, majores e capitães os nomes para a rebelião.