
Há pelo menos três alternativas possíveis para que Nicolás Maduro seja apeado do poder na Venezuela: a mais complexa e menos legítima seria pela coação militar externa. Ou seja, um ataque convencional que vise a decapitação do regime, como vimos no Iraque de Saddam Hussein. Isso seria arriscado demais. Vale a máxima "sabe-se como começar uma guerra, mas não como terminá-la". E seria ilegal do ponto de vista do Direito Internacional. Ataques contra um Estado soberano, dentro do ordenamento jurídico, só é permitido uma vez aprovado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).
Descartada esta opção, restam duas, não menos violentas — em 2017, uma onda de protestos contra a criação da Assembleia Constituinte terminou com 130 mortos. A primeira seria um golpe de Estado tradicional — infelizmente, método que os venezuelanos conhecem bem. A segunda: a pressão das ruas, que levaria à implosão do governo até a renúncia de Maduro.
Para qualquer uma dessas saídas, as manifestações desta quarta-feira e as horas seguintes de quinta-feira são determinantes. Sabe-se que a inflação no país deve passar dos 10.000.000% em 2019, que faltam itens básicos, como papel higiênico e comida, que 2,3 milhões de pessoas deixaram o país desde 2015 e que o PIB venezuelano despencou 50% em cinco anos. O apoio externo a Maduro minguou: apenas os governos autoritários de Cuba e Nicarágua o toleram. Desconfia-se até que a Rússia, de Vladimir Putin, aliada tradicional e muitas vezes sustentáculo de aventuras esquerdistas na América Latina, já tenha lavado as mãos. O companheiro Evo Morales, tudo indica, desceu do barco.
O que não se sabe, até pela dificuldade de acesso a fontes independentes em Caracas, é o quanto a catástrofe econômica toca o cidadão comum a ponto de mobilizá-lo a uma ação política, uma rebelião popular.
Só dois atores da sociedade venezuelana podem mudar a situação: a população civil ou os militares. Em duas décadas de chavismo-madurismo, o governo manteve o apoio da população mais pobre com benefícios sociais e por meio de forças paraestatais, como as milícias bolivarianas. Nos quartéis, a cadeia de comando não foi quebrada, mas há rachas.
Há sinais claros de que o governo balança e já não tem apoio nem entre a população nem na caserna: os focos de protestos e marchas em 60 áreas tradicionalmente apoiadoras do madurismo, como Catia, representam um ponto de inflexão. A rebelião de 27 militares na segunda-feira em Cotiza, aliada à quartelada no forte de Paracamay, em 2017, denotam fissuras. Segundo a ONG Controle Cidadão, cerca de 180 militares foram detidos em 2018, acusados de conspirar; mais de 100 mil homens pediram baixa desde 2015 e mais de 4 mil desertaram da Guarda Nacional em 2018.
Em Davos, presidentes de Brasil (Jair Bolsonaro), Colômbia (Iván Duque), Equador (Lenín Moreno) e Peru (Martín Vizcarra) e representantes de várias instituições internacionais discutem o pós-Maduro. Os quatro ficaram reunidos por uma hora e meia. Ao deixarem encontro, firmaram declaração apoiando Juan Gaidó presidente da Venezuela.