A ordem de prisão expedida pelo juiz Sergio Moro contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é notícia nos principais jornais internacionais, como The Guardian, Libération e The Washington Post, mas não com o mesmo destaque que a imprensa internacional dispensava, nos anos 2000, ao político oriundo da classe trabalhadora brasileira que chegou ao Planalto e conquistou os principais fóruns internacionais. Talvez reflexo da gradual perda de interesse por parte do mundo pela figura do ex-presidente.
Logo após chegar ao poder, Lula brilhou em seu primeiro discurso na Assembleia-Geral da ONU, como porta-voz do Terceiro Mundo. Era o exemplo mais bem acabado da onda "progressista" que tomava conta da América Latina, uma voz ponderada em meio a um continente com Evo Morales e Hugo Chávez. Frequentava os bastidores de encontros com poderosos com desenvoltura, era admirado por personalidades como Barack Obama e Jacques Chirac.
O Fórum Social Mundial em Porto Alegre foi a grande vitrine da esquerda brasileira, em 2001 e 2002. Em 2003, Lula se tornou o primeiro presidente a visitar o evento. Discursou para milhares de pessoas no Anfiteatro Pôr do Sol. Cem mil pessoas participaram do Fórum daquele ano.
Antes de chegar a Porto Alegre, Lula sofria críticas por sua participação no Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça).
Quando Lula venceu a eleição em 2002, o mundo olhava para o Brasil como laboratório da esquerda no poder na América Latina. A The Economist, revista conservadora de maior prestígio entre economistas e empresários, afirmava com entusiasmo: "a vitória do senhor da Silva seria um triunfo para a democracia brasileira. A história de vida de Lula é uma saga de mobilidade social digna de uma novela".
Lula atraiu os holofotes internacionais no primeiro discurso na ONU, em Nova York, ao abrir a Assembleia Geral em 2003: "Que minhas primeiras palavras diante deste parlamento mundial sejam de confiança na capacidade humana de vencer desafios e evoluir para formas superiores de convivência no interior das nações e no plano internacional." Era uma espécie de porta-voz do Terceiro Mundo a bradar por maior justiça social. Encontrou-se com o presidente francês Jacques Chirac e, na tribuna, propôs a criação de um comitê mundial para o combate à fome. Nos bastidores, defendia a reforma do Conselho de Segurança, incluindo a presença do Brasil como um de seus membros permanentes.
A primeira década do século 20 foi marcada por vários movimentos brasileiros para ganhar destaque internacional. Nesse contexto, o Brasil assumiu o comando da força de paz no Haiti e buscou protagonismo ao tentar mediar crises como a questão nuclear iraniana.
Durante encontro do G-20, em Londres, em abril de 2009, o presidente americano, Barack Obama, derrama-se em elogios: "Esse é o cara. Eu amo esse cara. Ele é o político mais popular do mundo".
No mesmo ano, a revista Newsweek publicou reportagem com o título: "O brasileiro Lula: o político mais popular do mundo".
Em 2009, em uma ONU marcada por líderes controversos como Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad, Lula era visto como ponto de equilíbrio entre a esquerda: a maior estrela será o ex-torneiro mecânico barbudo e brusco: o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva", dizia a Newsweek, que elogiava a liderança que mantivera o país imune em meio à crise econômica.
Em 2009, com uma imagem do Cristo Redentor decolando como um foguete em sua capa, a revista conservadora The Economist afirmava que "em relação a políticas sociais inteligentes e aumentar o consumo doméstico, o mundo em desenvolvimento tem muito mais a aprender com o Brasil do que com a China". O título da primeira página dizia: "Brazil takes off" ("Brasil decola").
No mesmo ano, foi escolhido pelo jornal britânico Financial Times como uma das 50 personalidades que moldaram a última década. Também foi eleito o "homem do ano 2009" pelo jornal francês Le Monde, na primeira vez que o veículo decide conferir a honraria a uma personalidade. No mesmo ano, o jornal espanhol El País, um diário conservador, escolheu Lula o personagem do ano. Na ocasião, o primeiro-ministro espanhol José Luis Rodriguez Zapatero redigiu o artigo de apresentação do brasileiro e disse que Lula 'surpreende' o mundo.
Em abril de 2010, Lula apareceu na capa da Time como um dos líderes mais influentes do mundo. No texto sobre Lula, o documentarista Michael Moore apresenta uma breve biografia do presidente. "O que Lula quer para o Brasil é o que nós [dos Estados Unidos] costumávamos chamar de sonho americano", avalia.
Em 2013, quatro depois da imagem do Brasil em ascensão, em capa polêmica, desta vez com o Cristo Redentor despencando, a revista The Economist resumia pessimismo. Em reportagem de 14 páginas, a reportagem de capa questionava: "Has Brazil blown it?" ("O Brasil estragou tudo?"
Em nível mundial, o escândalo de corrupção brasileiro é comparado ao da África do Sul, com líderes políticos carismáticos (Lula e Jacob Zuma), relações obscuras com grandes empresas (aqui a Odebrecht e a OAS, lá o grupo Gupta), envolvimento de familiares e até acusações de favorecimento (aqui, o triplex do Guarujá, no caso sul-africano uma mansão nos Emirados Árabes Unidos).
As sucessivas acusações, a condenação em primeira e segunda instâncias, foram levando a esquerda mundial a se afastar de Lula. Na opinião de especialistas, o ex-presidente já não era tão relevante para a esquerda latino-americana.
Na quinta-feira, o Financial Times afirmou que a ordem de prisão mostra que "ninguém está acima da lei no Brasil" e relativiza conquistas do governo Lula, comparando com outros governos sul-americanos, como Chile e Peru, que adotaram políticas de centro. Jornais europeus com posições à esquerda relacionaram a prisão à eleição. Na França, o tradicional jornal conservador Le Figaro traz um título épico: "Lula para a prisão, a queda de um ídolo", acompanhado de uma grande foto do ex-presidente com a cabeça baixa.