A saída do embaixador brasileiro na Venezuela, Ruy Pereira, é o mais novo round das rusgas entre os governos de Nicolás Maduro e Michel Temer. Viúvo da era Lula-Dilma no Planalto, quando o chavismo-bolivarianismo era a vitrine dos movimentos populistas que chegaram à presidência na América Latina, Maduro, volta e meia, precisa encontrar inimigos externos para continuar se sustentando já que, internamente, sua população está farta da crise econômica e com seu governo que flerta com o autoritarismo.
Se quer inimigos externos, o presidente venezuelano tem vários para comprar briga em um subcontinente cujo pêndulo da história vira, neste momento, para o lado conservador, com Mauricio Macri na Argentina, Juan Manuel Santos na Colômbia e Pedro Pablo Kuczynski no Peru, além de Temer entre seus expoentes, e Sebastián Piñera voltando ao Palácio de la Moneda, no Chile.
O novo round diplomático começou no sábado (23), quando Delcy Rodriguez, presidente da Assembleia Nacional Constituinte dominada pelos governistas, declarou o embaixador brasileiro persona non grata. O mesmo foi aplicado ao encarregado de negócios do Canadá Craib Kowalik. No linguajar diplomático, significa que ambos devem deixar o país.
Pereira já está no Brasil, de férias, e não irá voltar. No domingo, o Itamaraty informou que não irá enviar a Caracas um novo embaixador. Passado o feriado de Natal, já nesta terça-feira, o Brasil deve aplicar o princípio da reciprocidade, ou seja, o embaixador venezuelano em Brasília, Alberto Efraín Castellar Padilla, também deve ser obrigado a deixar o país.
As rusgas entre Brasil e Venezuela começaram depois do impeachment de Dilma, quando Maduro saiu em defesa da ex-presidente e disse não reconhecer o governo Temer. Na ocasião, o embaixador brasileiro já havia sido chamado de volta a Brasília - medida diplomática que mostra o descontentamento de um governo. Pereira voltou a Caracas em junho de 2017.
Temer tem incorporado o anti-madurismo na América Latina. Na quinta-feira, aproveitou a abertura da reunião de cúpula do Mercosul para dizer que a Venezuela foi suspensa do bloco econômico, porque colocou em xeque direitos fundamentais. O país foi suspenso do grupo no ano passado por descumprir obrigações com as quais havia se comprometido em 2012, quando foi admitida. Também recebeu uma sanção por "ruptura da ordem democrática" aprovada por unanimidade por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, países fundadores do bloco. A decisão é baseada no Protocolo de Ushuaia, de 1996.