A conquista de Angela Merkel do quarto mandato, neste domingo, na Alemanha, é a vitória da tolerância, do freio ao populismo e o renascimento, ainda que, com cautela, do sonho da unificação europeia.
Da tolerância porque, diante de um continente cada vez mais xenófobo, por conta do medo terrorista, a chanceler foi uma das poucas líderes a abrir as portas para refugiados, fugitivos de guerras na Síria e no Iraque e do norte da África.
Sua vitória representa também um freio, pelo menos por enquanto, a líderes populistas que assombraram o continente em 2017. O ano começou alvissaneiro para os partidos de extrema-direita, como o PVV, de Geert Wilders, na Holanda, e a Frente Nacional, de Marine Le Pen, na França. Mas, nos dois países, foram contidos. Eu disse que "por enquanto" porque Merkel venceu neste domingo, mas foi seu pior resultado eleitoral. E a extrema direita, representada pelos nacionalistas da Alternativa para a Alemanha (AfD), conquistaram pelo menos 86 cadeiras do Bundestag (parlamento alemão), entrando na Casa pela primeira vez em meio século. O partido defende o rigoroso das fronteiras (ou seja, a extinção do Espaço Shengen), a deportação imediata dos imigrantes que tiveram pedido de asilo negado
E, apesar da pequena margem da chanceler, que a obriga a formar alianças para governar (como já acontecia em seus mandatos anteriores), a vitória de Merkel é uma sobrevida à União Europeia, abalada pelo Brexit iniciado pelo Reino Unido. Junto com a França de Macron, a líder alemã tem se posicionado como a grande estadista europeia pró-unificação. Mais do que o francês, somente ela é capaz de juntar os cacos do bloco, colá-los e dar um novo formato à integração após a saída definitiva dos britânicos.