A Polícia Federal (PF) está atenta aos movimentos dos seis ex-detentos da base americana de Guantánamo que vieram morar no Uruguai em dezembro de 2014. A atenção dos federais deve-se a um incidente ocorrido em 19 de agosto. Um dos ex-prisioneiros, o sírio Jihad Ahmad Diyab tentou, pela segunda vez, ingressar no Brasil e foi interceptado pela equipe do delegado Alessandro Lopes, da PF de Santana do Livramento.
– Nós tínhamos a informação de que ele iria ingressar no Brasil e fizemos o trabalho de polícia de fronteira, o impedimento de entrada por falta de visto. Verificamos que ele estava ingressando, tinha ânimo de ficar aqui e procurar trabalho – contou Lopes à coluna.
Diyab chegou à fronteira brasileira na madrugada de 19 de agosto, acompanhado de um palestino morador de Rivera. Vindo de Montevidéu, onde mora desde que deixou Guantánamo, o sírio chegou de ônibus ao terminal de Rivera. Ao cruzar para Santana do Livramento, tentou hospedar-se em um hotel, na Rua Silveira Martins. Foi nesse momento que acabou interceptado pela PF.
A dupla foi levada até a área de controle migratório da PF, onde foi feito um termo de impedimento de entrada no Brasil. Eles pegaram um táxi para atravessar de volta para o Uruguai e foram escoltados pelos federais até a linha divisória.
Informações obtidas pela coluna dão conta de que o palestino, cujo nome não foi divulgado, teria conhecido Diyab em Montevidéu e oferecido emprego em Rivera, onde tem comércio, ou no lado brasileiro.
Diyab é conhecido da PF. Em 6 de junho do ano passado ele já havia tentado ingressar ilegalmente no país, dessa vez por Chuí.
– Ele usa muletas, é de fácil identificação. Não fala português – explica o delegado.
Diyab é uma espécie de porta-voz dos refugiados de Guantánamo no Uruguai. Em várias ocasiões, tem reclamado da forma como o governo uruguaio lida com os estrangeiros. Poucos meses após sua chegada, ele viajou à Argentina, onde pediu ao governo status de refugiados. Diyab tem nascionalidade síria, mas, na verdade, nasceu no Líbano. Foi preso em 2002 no Paquistão por ligações com a Al-Qaeda, de Osama bin Laden.
Para Guantánamo, base americana incrustada em Cuba, foram levadas centenas de suspeitos de terrorismo após os atentados de 11 de setembro de 2001. Um acordo entre EUA e Uruguai, no governo Mujica, permitiu a transferência de alguns presos. Além de Diyab, há outros três cidadãos de origem síria no grupo que veio de Guantánamo. Há ainda um tunisiano e outro palestino. Eles foram declarados livres pelos americanos devido a sua baixa periculosidade. Muitos capturados em conflitos no Afeganistão e no Iraque estavam lá, mas não tinham acusações formais. Diyab, por exemplo, ficou 12 anos em Guantánamo sem acusações nem julgamento. Desde 2013, fazia greves de fome e chegou a ser alimentado à força com técnicas como a inserção de um tubo pelo nariz para a introdução de líquido.
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Em julho de 2016, a foto de Diyab foi publicada pela companhia aérea Avianca, que alertou sobre sua presença ilegal no Brasil. Tratava-se de um comunicado interno que vazou para a imprensa, no qual a empresa pedia que seus funcionários avisassem as autoridades, caso o encontrassem.
Apesar de oficialmente ser um homem livre, com documentos uruguaios, seus movimentos são monitorados.
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A PF não informou se há relações entre o sírio e o grupo de 12 presos por terrorismo às vésperas da Olimpíada do Rio, na operação Hashtag. Em maio deste ano, oito foram condenados pela Justiça federal por fazerem parte de uma célula da organização terrorista Estado Islâmico (EI) no Brasil. Entre eles, está o gaúcho Israel Pedra Mesquita, que recorre em liberdade.