Após 13 anos, o Brasil encerra nesta quinta-feira suas operações no Haiti. Desde o início, em 2004, as Forças Armadas enfrentaram desafios do ponto de vista logístico, financeiro e de adaptação. Principalmente porque, mais do que participar, comandou a missão internacional.
Nos primeiros anos, houve confrontos com gangues de BelAir e Cité Soleil, que exigiram imposição de força pouco comum em uma missão de paz, regida por protocolos estritos para seus capacetes azuis entrarem em batalhas - afinal, a missão deveria ser manutenção de paz. Passados os momentos mais violentos, o Brasil iniciou as chamadas Acisos (Ações Cívico-Sociais) de apoio social.
Mesmo sem andar com as próprias pernas, o Haiti, em 2010, vivia o auge da recuperação - e o Brasil era parte disso. Então, veio o terremoto, que matou mais de 200 mil pessoas e jogou a pequena nação caribenha no caos.
Estive no Haiti como enviado de ZH em 2004, em 2007 e em 2010, no auge do horror daquela tragédia. Posso testemunhar: a presença brasileira no Haiti nesses 13 anos não foi um passeio. Os números comprovam isso:
37,5 mil militares brasileiros das três forças passaram pelo país.
O efetivo chegou a 2,2 mil no auge da missão, em 2010, logo após o terremoto, que matou 220 mil pessoas.
Uma epidemia de cólera, cuja origem é atribuída às tropas da ONU, matou 8 mil pessoas a partir de outubro de 2010.
O Brasil assumiu o comando da missão desde o início. Até hoje, 20 países contribuíram enviando membros de suas tropas.
Durante toda a existência da Minustah, 11 generais exerceram o papel de comandantes da força. Todos brasileiros. Dois morreram no exercício do cargo: Urano Teixeira da Matta Bacellar foi encontrado morto no hotel onde estava hospedado, em Porto Príncipe, em janeiro de 2006, e José Luiz Jaborandy Júnior morreu a bordo de um voo comercial que ia de Miami a Manaus, em setembro de 2015.
Além deles, 24 militares brasileiros morreram durante a missão, a maioria no terremoto de 2010.
O Brasil desembolsou R$ 2,5 bilhões com a missão e recebeu da ONU reembolso de R$ 930 milhões.