Criado em 1999, o G20 reúne os líderes das 19 maiores economias do planeta mais a União Europeia. O grupo se reúne anualmente para debater grandes temas globais. A reunião que começa amanhã é uma das mais importantes devido aos desafios do mundo atual: a Europa assolada por atentados terroristas frequentes, um bloco econômico abalado pela saída do Reino Unido, a ascensão de Donald Trump e sua política de isolamento dos EUA e a crise dos mísseis envolvendo a Coreia do Norte. Aqui, um rápido guia para acompanhar o encontro.
Paris, Nice, Bruxelas, Berlim, Londres, Manchester. Nos últimos dois anos, essas grandes cidades europeias foram alvo de atentados de extremistas islâmicos _ alguns deles reivindicados pelo grupo Estado Islâmico e outros por lobos solitários simpatizantes da organização, que colocou a Europa no alvo à medida em que está sendo sufocado na Síria e no Iraque. O novo modus operandi dos terroristas é jogar carros ou caminhões contra pedestres. Só o Reino Unido foi alvo de quatro grandes ataques nos últimos três meses.
É a primeira reunião das potências depois do início do processo de saída do Reino Unido da União Europeia. A primeira-ministra britânica, Theresa May, já explicou sucessivas vezes sua intenção, mas o comando da UE, em Bruxelas, endureceu o tom. Não deve ser um divórcio pacífico. Será interessante observar as manifestações dos líderes europeus com referências diretas e, principalmente, indiretas ao fim do casamento.
Volta e meia, o ditador norte-coreano Kim Jong-un tem arroubos belicistas, causa certo barulho e é contido pela China. Mas, desta vez, a temperatura se elevou por conta de perigosa ação e reação. A Coreia do Norte lançou na semana do G20 um míssil com capacidade de transportar ogivas nucleares (supostamente) e (também supostamente) com condições de atingir o Alasca, território dos EUA. Em resposta, EUA e seu parceiro na Ásia, Coreia do Sul, fizeram testes com mísseis. Uma conversa entre os líderes europeus, Putin e o líder chinês, Xi Jinping, pode vir em boa hora.
É uma nova Europa que estará na cúpula. Além do Brexit, o continente tem eleições importantes em 2017. Algumas já ocorreram _ como Holanda e França. Os resultados nesses dois países frearam o populismo e o conservadorismo. Na Holanda, depois do medo de que Geert Wilders, o candidato racista e antieuropeu que chegou a liderar as pesquisas vencesse, quem realmente levou o pleito foi o atual primeiro-ministro, o liberal de direita Mark Rutte. Na França, um dos líderes da UE e, portanto importante ao ditar os rumos do continente, a vitória de Emmanuel Macron, de centro, deu um ar de esperança ao continente. Sobretudo pela derrota de Marine Le Pen. Macron tem trabalhado junto com Angela Merkel para colar fraturas do bloco econômico, é o novo queridinho da política e de parte da imprensa e começa a alçar voo solo. A própria Angela enfrenta as urnas em setembro, em eleição importantíssima para a Alemanha e para a UE. Deve ser reeleita. Importante observar como ela se sai como anfitriã e candidata.
Será a verdadeira estreia de Donald Trump no cenário internacional. Suas viagens anteriores pouco contam _ inclusive seu périplo pelo Oriente Médio, que provocou mais estragos do que ganhos diplomáticos _ à exceção dos acordos bilionários de venda de armas pelos americanos. Vale lembrar que foi depois de sua visita que a Arábia Saudita criou coragem de peitar o Irã por meio do Catar. Trump deve tentar explicar ao mundo sua política de fechar as portas da América. Seu discurso é um dos mais esperados _ e também o que tuitará. Vale também ficar de olho no encontro entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin. Será o primeiro. Há tantos assuntos que os dois poderiam conversar que dois dias de reuniões não serão suficientes.
Angela Merkel gostaria que esta reunião fosse a cúpula que consagraria os compromissos fechados no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. A rejeição do governo Trump ao tratado é um dos pontos mais delicados. Como pedir que as nações cumpram o acertado em Paris e reduzam emissões de gases que provocam o aquecimento global, se os EUA, maior potência do planeta e maior poluidor não o fará?
Como acontece todos os anos, manifestantes contrários à globalização já estão nas ruas de Hamburgo com faixas como "Bem-vindos ao inferno" ou "make love great again", este último em referência ao slogan de Trump "make America great again". Os atos acontecem em meio à chegada dos líderes, como Trump e Putin, que já estão na cidade, a segunda maior da Alemanha, importante polo econômico com seu porto no Rio Elba. Hamburgo está protegida por cerca de 20 mil policiais e militares. Nesta quinta-feira, há confrontos entre policiais e forças de segurança.
O presidente Michel Temer não iria à cúpula por conta da crise política. Mas, de última hora, decidiu viajar. Sua indecisão deixou até os organizadores do G20 confusos. O programa de imprensa distribuído a jornalistas nesta quinta-feira não inclui o nome do brasileiro. No lugar está o do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O principal compromisso de Temer lá será a reunião dos Brics (Brasília, China, Rússia, África do Sul e Índia) _ e a foto com os líderes mundiais, claro.