Bizarrices tuiteiras de fim de semana à parte, são preocupantes os estragos que Donald Trump tem deixado ao desequilibrar, para o lado bélico, delicadas relações geopolíticas regionais. Primeiro foi no Oriente Médio, onde governos islâmicos isolaram o Catar, duas semanas depois da visita do presidente americano à Arábia Saudita, na qual elevou os príncipes sauditas à posição de líderes locais – em oposição, clara, ao Irã. Por tabela, acabou atingindo o outro aliado na região – o emirado onde os EUA mantêm sede do Comando Central, que coordena as operações contra o Estado Islâmico, por exemplo.
As declarações de Trump deram o suporte necessário para a Arábia Saudita tomar medidas mais drásticas do que de costume em relação a seus vizinhos, usando como pretexto o combate ao terrorismo. Enquanto voltava para Washington com a mala cheia de contratos de vendas de armas, os sauditas, ao lado dos Emirados Árabes Unidos, do Bahrein, do Egito e do Iêmen, suspendiam as relações diplomáticas com o Catar.Agora, na semana do G20, encontro que vai reunir na sexta-feira e no sábado em Hamburgo (Alemanha) líderes dos mais influentes países do mundo, Trump despacha para outro canto explosivo do planeta, o Mar do Sul da China, um destróier armado com mísseis Tomahawk.
Trata-se de um claro sinal de pressão contra a Coreia do Norte, mas, de novo, o americano desequilibra a balança – e não para o lado da paz. Isso porque, ao pressionar o regime comunista de Pyongyang, a Casa Branca compra briga com os chineses, cuja relação, nos bastidores diplomáticos, nunca foi boa, desde que, então candidato, Trump afirmou que não considerava “necessariamente estabelecido o princípio de uma só China”. Entre sua vitória na eleição de novembro e a posse, em 20 de janeiro, ele irritou profundamente Pequim, ao aceitar um telefonema de felicitações da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen. Em nome do “princípio de um só China”, Pequim não aceita que seus aliados mantenham relações diplomáticas com a ilha, que considera uma província rebelde.
O governo dos EUA rompeu em 1979 as relações diplomáticas com Taiwan e reconheceu o regime comunista da China continental como a única autoridade legítima chinesa. Mas Washington mantém vínculos comerciais com Taiwan e vende armas ao território – o mais recente negócio, ainda não digerido pela China, foi de US$ 1,42 bilhão (R$ 4,7 bilhões) em radares, mísseis, torpedos e outros armamentos. No final de abril, em uma reunião, na residência de Mar-a-Lago, Trump deixou claro ao presidente chinês, Xi Jinping. que poderia agir por sua conta na Coreia do Norte, caso a China não pressionasse o regime de Kim Jong-un.
Enquanto isso, outro grupo de combate, USS Carl Vinson, deslocava-se para a Península Coreana.