Sujo, com o olhar distante, o rosto machucado, em choque, Omran se tornou símbolo do sofrimento da população síria, atacada por seu próprio governo. Mas, na guerra, não há transparência. O cenário é pantanoso, com nuances.
Dez meses depois, o menino reapareceu agora penteado e aparentemente saudável - ao menos fisicamente. Sua família teria sido ameaçada e intimidada por rebeldes após a foto de Omran correr o mundo. O pai teve de cortar o cabelo do menino e mudar seu nome para evitar que fosse sequestrado. Outra versão dá conta de que a atitude era para protegê-lo da curiosidade da imprensa.
A família declarou apoio a Bashar al-Assad e disse que as imagens do filho foram usadas pela oposição e pela mídia internacional para atacar o presidente. Eles também se mudaram para o lado pró-governo da cidade de Aleppo.
"Os mesmos que o bombardearam", apressaram-se alguns.
Difícil julgar a atitude de alguém na guerra, quando a racionalidade se esvai. O que levaria o pai de Omran a buscar o lado de Al-Assad pode não ser ideologia política. Teria optado pelo lado mais forte por entender que, ali, garantiria a sobrevivência dos seus filhos? Já perdera um no bombardeio do ano passado. Teria sido coagido a exibir agora o filho para satisfazer o governo?
Omran é tão vítima da guerra civil síria quanto de sua propaganda. O que, no fim das contas, é guerra igual.