“Esqueçam os direitos humanos. Traficantes, assaltantes e vagabundos, é melhor vocês irem embora porque eu os matarei”.
A frase, embora soe parecida com a de políticos populistas brasileiros, é de um líder de um pequeno arquipélago do outro lado do mundo. Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas, talvez nunca tenha ouvido falar em Jair Bolsonaro, mas implanta na presidência a retórica conhecida por aqui contra a criminalidade, atropelando direitos civis.
Duterte fez o alerta em maio de 2016, em plena campanha eleitoral. Parecia jogar para a torcida, mas, no poder, tem feito exatamente o que prometera: um rastro de sangue, dando à polícia e a grupos de extermínio licença para matar. Não à toa seu apelido é “Justiceiro”.
Prefeito por sete mandatos (22 anos!) antes de chegar à presidência, Duterte fez de sua Davao, no sul do país, microcosmos do que implantaria em nível nacional. Mais de mil suspeitos de uso de drogas e traficantes foram mortos, em execuções extrajudiciais. Alega ter transformado uma das cidades mais perigosas das Filipinas em uma das mais seguras, embora estatísticas apontem que Davao segue ocupando os primeiros lugares do ranking de insegurança.Uma reportagem da rede Sky News mostra policiais em incursões pelas favelas da capital, Manila. Carregam uma lista prévia de usuários de drogas ao interrogar moradores.
– Seu marido está usando drogas? – pergunta um oficial diante de uma moradora, assustada.
Um homem denunciado por um vizinho é obrigado a abrir a boca para mostrar que não está escondendo comprimidos de metanfetamina. Se houver resistência, a polícia está autorizada a matar.
Recentemente, a política de Duterte despertou elogios do presidente dos EUA, Donald Trump: “incrível trabalho”, felicitou o americano, por telefone, segundo o jornal The Washington Post. Davao era, de fato, um laboratório. Organizações de direitos humanos afirmam que pelo menos 7 mil alegados dependentes e narcotraficantes foram mortos, com a participação ou anuência das forças de segurança, desde que assumiu.
Ao contrário de líderes ocidentais que viram sua popularidade despencar após a eleição, em um ano de mandato Duterte aumentou sua popularidade: foi eleito com 39% dos votos, tem hoje 90% de apoio da opinião pública. Impotência do cidadão comum diante da violência e altíssimos índices de corrupção costumam abrir espaço para salvadores da pátria. Vale lembrar um detalhe: a taxa de homicídios nas Filipinas é de nove assassinatos para cada 100 mil habitantes. No Brasil, é três vezes maior: 32,4 para cada 100 mil, segundo a Organização Mundial da Saúde.