Na campanha eleitoral britânica, como na brasileira ou na americana, os fatos desmentem versões. Até poucos dias atrás, a eleição desta quinta-feira no Reino Unido era a luta de Theresa May por mais poder para executar com mão de ferro o Brexit. Três atentados em 90 dias transformaram a disputa em uma batalha por sobrevivência política.
Pressionada pelo crescimento dos rivais trabalhistas nas pesquisas, a primeira-ministra resolveu endurecer o discurso. Culpou a legislação, em sua opinião tolerante demais aos terroristas, pelos ataques e acrescentou que, se esse é o problema, mude-se a lei. Como já ocorreu em vários atentados nos últimos anos na Europa, percebe-se uma falta de conexão entre setores de inteligência e operacional nacionais e internacionais.
Da ponte de Westminster à de Londres, passando pela arena de Manchester, os autores dos ataques estavam no radar das autoridades havia meses – em alguns casos, anos. Khalid Masood, que matou sete pessoas perto do Big Ben, e Salman Abedi, que se explodiu no show de Ariana Grande, integravam a lista de 20 mil suspeitos de extremismo que, em algum momento, foram investigados. Outro terrorista, Youssef Zaghba, que atacou no Borough Market no sábado, havia sido interceptado no aeroporto de Bolonha em março, quando tentava viajar para a Turquia – porta mais fácil para a Síria. Não foi acusado formalmente, mas permaneceu monitorado pela inteligência italiana até chegar a Londres. O Reino Unido, então, foi informado sobre o suspeito. Outro agressor, Khuram Shazad Butt, havia sido denunciado em várias ocasiões às autoridades britânicas por seu radicalismo e chegou a participar de um documentário na TV chamado “The Jihadis Next Door”. Seu nome estava em uma lista mais restrita, dos 2 mil suspeitos investigados atualmente.
Ou seja, não foi por falta de aviso nem por culpa da legislação que o Reino Unido foi atacado. Faltou ação. E conexão.