Em entrevista a ZH, o deputado argentino Guillermo Carmona (Frente Ampla), que denunciou a escala de aviões militares britânicos em aeroportos brasileiros, diz que é "estranho" o governo brasileiro não ter conhecimento dos voos e exige explicações. Segundo documento confidencial do controle aéreo argentino, pelo menos seis aeronaves da Royal Air Force pousaram em aeroportos brasileiros, entre eles o Salgado Filho, em Porto Alegre, como pausa antes de seguir viagem para as Ilhas Malvinas (Falkland Islands, para os britânicos). Em 2015, teriam sido 12 aterrissagens. O caso provocou mal-estar entre os governos de Brasil e Argentina, porque violaria acordos no âmbito do Mercosul e da Unasul. Veja os principais trechos da entrevista com Carmona, que denunciou o caso no Congresso argentino.
Qual a gravidade do uso dos aeroportos brasileiros por aviões militares britânicos?
Denunciei o caso à Câmara dos Deputados como fatos de altíssima gravidade porque denotam, por um lado, o aumento da militarização britânica nas Malvinas. Esses voos estão relacionados com aumento do pressuposto militar disposto Reino Unido para a execução de obras para as quais necessitam pessoal e materiais. São aviões que transportam material militar ou tropas. Em segundo lugar, é grave porque está demonstrando o descumprimento de compromissos do governo de um país que consideramos irmão, o Brasil. São compromissos que foram assumidos sob o marco da Unasul e do Mercosul. Em terceiro lugar, estamos muito preocupados com o fato de que o governo argentino não fez um forte protesto ante do governo Temer e ante o governo britânico. Se alguém ler o documento confidencial, verá que houve uma nota de baixo teor, sem que fossem usados os termos exigidos em uma situação tão grave como essa. Vemos como muitíssima gravidade e estamos preocupados sobretudo com a atitude que estão tendo os governos de Temer e de Macri.
O que o senhor espera do governo brasileiro?
A chancelaria argentina disse que o governo do Brasil desconhecia os fatos e que iria consultar o Ministério da Defesa. Não é crível esse argumento. Não podemos acreditar que o governo do Brasil desconheça (os fatos), uma vez que o ministério é um organismo que depende do presidente do Brasil, não é um organismo independente. É parte do governo brasileiro. Então, não pode afirmar isso, de que o governo do Brasil desconheça. O Ministério da Defesa brasileiro não pode desconhecer uma questão tão evidente como voos militares de uma potência como é o Reino Unido. Se for assim, denotaria uma situação que, ao menos na Argentina, seria muito grave: a desatenção das questões de defesa. É um argumento não crível.
Uma autoridade do aeroporto de Porto Alegre confirmou a ZH que é habitual a presença de aeronaves britânicas militares no Salgado Filho, por exemplo.
Se for assim, é muito mais grave a situação. O subterfúgio que o Reino Unido utiliza para conseguir que seus aviões sejam abastecidos é argumentar razões humanitárias, algum problema de saúde dos pilotos. Agora, é tão frequente o que ocorreu no ano passado, que perguntamos: é tão frequente que pilotos britânicos tenham problemas de saúde? Evidentemente, estão utilizando esse argumento para fazer disso uma questão normal. Tudo isso nos preocupa e alarma.
O senhor sabe datas e números de voos?
Não, mas vou insistir para que nos deem todos os detalhes. Queremos saber números de voos, horários, informações sobre o que transportavam, todos os elementos.
Em 1983, ZH flagrou aviões britânicos na Base Aérea de Canoas, ou seja, tendo o Brasil como escala, mesmo quando o governo brasileiro negava oficialmente apoio.
Não conhecia o caso do Brasil, mas sim do Chile. Na época da ditadura de Pinochet, era frequente. Pinochet deu apoio logístico ao governo britânico durante a Guerra das Malvinas.