Ao afirmarem que a opção militar será posta à mesa, se o governo da Coreia do Norte continuar incrementando seu programa de armamentos, inclusive nucleares, os Estados Unidos elevam alguns tons na sua política com o regime de Kim Jong-un.
A fala do secretário de Estado americano, Rex Tillerson, durante sua visita à fronteira entre as duas Coreias, na sexta-feira, foi sua estreia de fato no tabuleiro mundial. Como ex-CEO da Exxon Mobil, o milionário estava mais acostumado à diplomacia dos negócios do que a dos interesses geopolíticos. Nesses dois meses de governo Donald Trump, Tillerson andava apagado, ofuscado pelo chefe centralizador. Na Península Coreana, teve sua fala mais forte até agora: disse que a “diplomacia da paciência estratégica”, segundo ele adotada pela administração Barack Obama, chegou ao fim.
Engana-se, entretanto, o secretário ao acreditar que a tolerância com os norte-coreanos era característica exclusiva dos anos de soft power na Casa Branca. Presidentes anteriores – e belicistas – como Bush pai e filho, por anos, adotaram a política do morde assopra com a ditadura, sem ir às vias de fato de um ataque militar. O Iraque importava mais. Como um cão que ladra mas não morde, Kim Jong-il, pai de Un, arrancou, assim, benesses dos governos ocidentais cada vez que disparava um míssil e colocava o mundo sob suspense. Conseguia comida para sua população faminta, privada de liberdade e alijada do resto do planeta. Equilibrava-se no poder.
Não é do interesse americano abrir um front no Extremo Oriente, uma vez que Trump planeja priorizar problemas internos. Mas um regime indomável armado passa a ser não apenas uma ameaça aos aliados Japão e Coreia do Sul, mas também a governos historicamente próximos dos norte-coreanos. Não está claro o poder persuasão de Vladimir Putin e do Partido Comunista chinês sobre Kim Jong-un.