Normalmente, o dia de hoje quase passa batido nos Estados Unidos. Trata-se da data em que o Colégio Eleitoral apenas ratifica a decisão tomada na eleição presidencial. Seria um processo meramente formal, burocrático. Não fosse o pleito de 8 de novembro daqueles de entrar para a história. É a quinta vez que um presidente perde no voto popular, mas leva a Casa Branca.
Nas urnas, a democrata Hillary Clinton ficou com 65.818.318 milhões de votos, contra Trump, 62.958.211. Mas, graças ao extravagante processo eleitoral americano, chamado de "winner takes all", o verdadeiro vencedor é aquele que conquista pelo menos 270 votos no Colégio Eleitoral. Ou seja, aquele que ganha no voto popular em um Estado leva todos os votos - daí o termo "winner takes all" (o vencedor leva todos). Trump teve 306 delegados; Hillary, 232.
Há até uma pressão para que os delegados hoje não cumpram com o dever de votar segundo o que decidiu seu Estado. Mas isso não deve vingar. Não há obrigação pela Constituição. Delegados "rebeldes" não são punidos. Mas raramente existem. Por tradição, eles costumam obedecer à decisão de seu Estado. Só um dos 538 disse que não cumprirá a opção de seus eleitores: Christopher Suprun, bombeiro texano, republicano, que atuou como voluntário nos atentados de 11 de setembro de 2001. Disse que votará de acordo com sua consciência, porque "Trump não está preparado para o cargo".
Para que Trump perdesse, 37 delegados precisariam mudar seu voto - algo improvável e que abriria uma crise sem precedentes na história americana.
Até hoje, a vez mais famosa em que um candidato perdeu no voto popular, mas venceu no Colégio Eleitoral havia sido em 2000. O vice de Bill Clinton, Al Gore, conquistou 50.003.926 votos, contra 50.460.110 de Bush. Uma diferença de 543.816 votos. Depois de uma batalha judicial, com recontagem, na Flórida, Bush venceu no voto popular nesse Estado, o que deu a ele direito a todos os 25 delegados nessa região - assim, Bush chegou ao Colégio Eleitoral com 271 representantes contra 266 de Gore. Levou a Casa Branca, e o resto da história a gente já sabe.