Ando com saudades de Donald Trump. O candidato, não o presidente. Aquele que prometera colocar Hillary Clinton atrás das grades, que defendia a tortura contra suspeitos de terrorismo e que não daria ouvidos ao acordo do clima de Paris. Aquele homem que esbravejava contra tudo e contra todos pelo menos era previsível. Você chegava para cobrir seu comício e sabia que não sairia dali sem uma frase de efeito, uma manchete, na maioria das vezes uma bravata.
Donald Trump presidente, aquele da terça-feira, sentado no 16º andar do prédio do The New York Times, na 8ª Avenida, em Manhattan, não reconheço. Mudou de ideia em relação a quase tudo o que conquistou corações e mentes dos militantes mais aguerridos nos últimos 18 meses. Sobre Hillary, não irá mais processá-la por conta de suposto uso de servidor privado para e-mails sigilosos e tráfico de influência em relação à fundação de seu marido, Bill. Não quer “machucar os Clinton”, garantiu. Sobre tortura, foi convencido por um general reformado, James Mattus, de que não é uma “técnica útil”. E sobre o aquecimento global afirmou estar com “a mente aberta”. Até conceder entrevista a um jornal que ele chamou de “fracassado”, que o cobria de forma “parcial e com tom desagradável”, Trump anda concedendo. Não sem antes titubear, é verdade. No mesmo dia da entrevista, já com hora marcada perante alguns dos melhores editores, repórteres e colunistas do mundo, sua assessoria cancelou o encontro. “As condições haviam mudado”, disseram. No fim do dia, seu porta-voz, Hope Hicks, acabou por confirmar a visita.
Os discursos agressivos e as promessas pouco realistas de Trump na campanha arrebanharam 61.917.320 de votos. Imagine-se hoje um eleitor de Trump... Aquele que queria vê-lo combater “fogo com fogo”, que vibrava com a deportação de 11 milhões de ilegais – ele fala agora em 3 milhões – e que obrigaria os mexicanos a pagar a conta pelo fabuloso muro na fronteira.
Em qual Trump você confiaria? Naquele em que votou? Ou no candidato que, uma vez eleito, o trairia? É melhor que Trump seja quem prometeu ser na campanha ou o que tem se apresentado desde que vestiu a roupa de presidente eleito?