Donald Trump não deixou apenas os Estados Unidos – e o mundo – em suspenso ao não garantir que irá aceitar o resultado das eleições no dia 8 de novembro. Sua declaração (algo como Na hora eu vejo), que surpreendeu até o mediador do debate, o jornalista Chris Wallace, põe em risco as bases da democracia americana. Ao despencar nas pesquisas (está sete pontos atrás de Hillary Clinton, segundo a média das últimas pesquisas), o candidato republicano jogou sujo ao ameaçar romper com a tradição de o derrotado aceitar, imediatamente na noite da eleição, os resultados.
Isso é grave, e traz de volta o fantasma de 2000,quando George W. Bush e Al Gore travaram uma batalha cruel pelos votos do Estado da Flórida. Após contagens e recontagens, Gore, que havia ganho no voto total da população, perdeu no Colégio Eleitoral para Bush. O republicano virou presidente.
Nos últimos dias, Trump tem reclamado sucessivas vezes de fraude no processo eleitoral. Vale lembrar que, pela primeira vez na história, enviados da Organização dos Estados Americanos (OEA) irão observar a eleição americana – até hoje, os EUA não permitiam que estrangeiros analisassem seu pleito.
Ao deixar o mundo sem saber se aceitaria a derrota no dia 8, Trump conseguiu atrair para si os holofotes de um debate equilibrado. Foi o duelo televisivo menos baixo da série de três. O único em que propostas reais foram colocadas à mesa, ainda que de forma bastante superficial.
Os candidatos evitaram tocar nas feridas dos adversários: assuntos de sempre, polêmicos, como o uso por Hillary de emails pessoais para troca de informações oficiais quando era secretária deEstado, ou a declaração de imposto de renda de Trump (ainda não revelada), até apareceram, mas não foram explorados. Trump, de novo, foi mais agressivo, tentou interromper Hillary e o mediador várias vezes.
Dividido em seis blocos de 15 minutos, o duelo tratou de temas como migração, aborto, a indicação do presidente para a Suprema Corte, dívida pública, desemprego e política externa - Hillary perdeu a oportunidades de se mostrar mais experiente do que Trump nesse tema, como havia feito nos dois primeiros enfrentamentos.
Aliás, o debate esquentou quando ambos falaram sobre o presidente russo, Vladimir Putin, e a suposta influência de seu governo na eleição americana. A democrata foi dura ao chamar o adversário de “marionete” de Putin. Trump disse que não é amigo nem nunca se encontrou com o russo.
A polêmica proposta de Trump de construir um muro entre os EUA e o México apareceu, mas o candidato, que vinha evitando o tema, mais uma vez não aprofundou como faria nem quanto custaria sua obra. Hillary e o mediador perderam a oportunidade de questionar. Um cálculo feito pela revista The Economist prevê um gasto de US$ 15 bilhões para erguer a barreira.
Como se sabe, Hillary venceu o primeiro debate. Trump foi melhor que si próprio no segundo. Com menos baixaria do que nos anteriores, esse último duelo foi o mais equilibrado de todos. Até nos gestos. Começou e terminou sem aperto de mãos.