Recebi há poucos dias pequeno texto em que o dono de possante motocicleta responde à exclamação feita por alguém: "Quantas pessoas poderiam ser alimentadas com o que foi gasto nesta máquina!". E o proprietário assim esclarece: "Olha, não saberia dizer-te quantas pessoas, mas foram muitas. Gente trabalhadora, que atua em vários níveis ao longo de uma cadeia produtiva e comercial que vai da mineração de cobre para os fios até a fabricação de caminhões para transportar tudo às concessionárias". Uma multidão, portanto. Apesar dessa evidência, prospera entre nós a ideia de que desigualdade expressa sempre algo ruim. No caso acima, por exemplo, presume-se que haverá mais bicicletas se menos motos puderem ser adquiridas.
Estou a escrever sobre igualitarismo. Abordando o tema para diversos auditórios, encontro muita gente que se declara atraída pelo conceito de uma sociedade igualitária. Compraram de alguém a ideia de que os desníveis sociais são injustiças praticadas por quem tem contra quem não tem. No passo seguinte, olham para o Estado e pedem providências. Afinal, ele, o Estado, é o principal zelador do bem comum, certo? Cabe-lhe, então, fazer com que todos, no caso acima, tenham acesso ao mesmo tipo de bicicleta, tomando, para esse fim, algum dinheiro da óbvia fonte disponível: o dono da moto. A injustiça, porém, não é subproduto da prosperidade, mas produto de um Estado que toma para si 40% da renda nacional e serve, a quem mais precisa, a pior escola, o pior ensino, o pior sistema de saúde e saneamento, o mais degradante paternalismo e, claro, nenhuma oportunidade.
Não se cobrem mais exemplos à História! Sociedades igualitárias são, sempre, construções de uma abonada elite totalitária e a experiência dos povos já fez o que pode para certificar quanto é ruinoso e funesto o igualitarismo. Mesmo assim, esse estrupício ideológico prosperou e causa severos danos ao desenvolvimento econômico e social, aos serviços públicos, ao sistema de ensino e à cultura nacional. Nem nosso desempenho esportivo escapa! Como poderia o Brasil se tornar potência esportiva se aqui se desestimula o mérito e a desigualdade é malvista, se o espírito competitivo é refugado e se a individualidade deve ser coibida? Pergunte a uma turma de alunos algo que há 60 anos teria resposta certa: quem é o mais rápido nas corridas, ou o que pula mais longe, ou o que salta maior altura? Fora raríssimas exceções, essas indagações não terão resposta porque a competição é desestimulada no espaço educacional! O mérito é objeto de indiferença, causa de desconforto. E a palavra meritocracia suscita extremado antagonismo.
Todos os resultados incontornáveis dessa utopia se resumem em alguma forma de mediocridade. Quando o mérito, em vez de receber nota 10, ganha zero, expulso do espaço pedagógico, o teto bate em cinco e começa a cair. O aluno estudará "o suficiente para passar", assistirá ao número exato de aulas que lhe permitam comparecer às provas, limitará seus esforços ao mínimo necessário, contido ao mínimo que lhe consiga transmitir o professor. Soou como algo conhecido? Será então o diploma e não o conhecimento, o emprego e não o empreendimento, o salário e não o trabalho, o consumo e não a poupança.
São muitos os freios e entraves que constrangem nosso desempenho econômico e social, gerando situações que ferem a dignidade humana e, por isso, devem ser rejeitados e atacados. Mas nenhum supera em capacidade destrutiva o ato de assumir o igualitarismo como objetivo. Ele se associa, obviamente, a uma visão de sociedade espremida entre o marxismo-leninismo e seu genérico mais simpático, o socialismo, que vai para o mesmo lugar montado numa pombinha branca com uma rosa vermelha na mão esquerda.
Não estou descrevendo uma teoria, mas uma filosofia e uma política que há muito determinam condutas sociais. Falo de veneno servido às colheradas nas salas de aula, onde estudantes competitivos são vistos como anomalias. Nada mais avesso ao espírito olímpico e, claro, ao bem comum.