Não preciso buscar autor cristão para encontrar observações importantes sobre os antagonismos acima. Até um marxista da Escola de Frankfurt percebeu o vigor presente nesses sentimentos e atitudes. Mirando o nazismo e não o conjunto das experiências totalitárias de seu tempo, Erich Fromm entendeu que odiar e destruir também eram formas de transcendência. Mas eram inferiores a amar e construir.
"Se for necessária a violência, que venha a violência!", esbravejou certa vez um professor durante debate do qual participei sentado a cautelosa distância no outro lado da mesa. O moço queria transcender à realidade que via, e o caminho arrebatado, rompante, tão pouco civilizado, parecia lhe servir. No chamado à turbulência existem conteúdos explícitos e implícitos. Há o voluntarismo dos que só se subordinam a leis próprias. Há uma atitude perante a vida que não vê limites ao querer. Há boa dose do desejo de transcendência pelo viés negativo mencionado por Fromm. E há a enfermidade psíquica que se compraz com a sensação de poder advinda da brutalidade: bateu, quebrou, causou dor, gerou perda, ferrou com tudo? Êxtase!
Escrevo estas linhas pensando nos vândalos que escolheram a rua mais charmosa do bairro mais elegante da cidade para suas pichações políticas e manifestações de ira em favor da continuidade do mandato da presidente Dilma. Era prazerosa, apesar de malsã, a tarefa de entrar por aquela específica rua expressando uma forma de poder que ultrapassava os limites dos códigos de conduta dos frequentadores, antagonizando-os politicamente. Não se diga que "até aí, nada de mais". O que estou descrevendo é a opção real por uma política que construiu assim seu caminho para o poder. Assim a ele chegou. E assim fez acontecer com a ordem pública e com a lei o mesmo que acontece com o elástico da cueca. Esgarçou. Foi tanta cizânia, tanta história mal contada, tanto divisionismo para conquistar que o elástico não resistiu.
Não ouvimos da boca da presidente afastada, há bem poucos dias, que o ministério de Temer era formado por velhos, brancos e ricos?
Expondo-me ao risco de extrair intuito de onde não costuma haver intuito algum, eu diria que Dilma rezou pela cartilha que manda fatiar a sociedade para conquistá-la; suscitar o conflito para debilitar e intimidar conflitantes; mobilizar sentimentos vis para que a vilania seja consentida. Brasileiros com menos de 30 anos talvez não lembrem do que aconteceu no Brasil nas festividades que deveriam ter marcado os 500 anos do Descobrimento. Você lembra, leitor? O PT, seus movimentos sociais e a esquerda bagunçaram tudo durante meses e acabaram com a festa! Odiar e destruir. Odiar e destruir. O resultado está aí em dimensão nacional. Onde foi diferente?
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Nossa esperança não está nem poderia estar no bom caráter da nova maioria parlamentar formada, em grande parte, pela velha maioria parlamentar. Não existe isso em quantidade suficiente no Congresso Nacional. Aliás, antes mesmo dessa obviedade: o que seria "caráter" para quem sempre afirmou que gente de bem, como se diz por aqui, ou o "homem bom", como dizia Aristóteles há 2300 anos, é papo de tolos conservadores? Toda tentativa de desqualificar o novo governo substituto com base no caráter de muitos de seus membros, migrados da base do governo petista, é esperteza de falso malandro. É surto de moralidade em casa de tolerância. Nossa melhor esperança, repito, só pode estar no povo que foi às ruas! Naqueles brasileiros que vimos aqui no Parcão, em Porto Alegre, e nas praças e avenidas do Brasil. Com a consciência de que é preciso mudar atitudes e rumos, precisamos desses brasileiros permanentemente, no acompanhamento das grandes pautas nacionais. E nas eleições por vir. Tivemos o pior governo da história da República. Foi como se houvéssemos confiado a condução do país a um GPS estragado, cuja moça perdeu o sinal do satélite e nos fez andar na contramão, levar multa, errar o destino, entrar em buraqueira, estragar o carro e, ao fim, perdidos, tombar no acostamento.