Nasci em Porto Alegre, no Hospital Moinhos de Vento, que, na época - 1950 -, se chamava Hospital Alemão. Minha mãe só falava o idioma alemão e lá ela encontrou diálogo natural e ganhou seus três filhos. Eu fui o caçula.
Morávamos no bairro da Glória, na época um pouco distante de tudo. A cidade era muito menor. A Rua São Joaquim, onde morava, não tinha calçamento e ali, no meio da rua, jogávamos futebol todos os dias. Tínhamos amigos. Muitos. A gurizada toda se dava e a gente vivia na rua fazendo muita arte.
Montamos um time de futebol de salão. Na prefeitura, conseguíamos receber horários gratuitos nas canchas da mesma prefeitura. Nos dias de muito calor, nosso time se movimentava intensamente. Nossos adversários pensavam que era uma estratégia, mas, na verdade, não dava para parar por conta do aquecimento do piso de cimento, já que os tênis eram furados. Éramos guris muito pobres.
Nas feiras de sábado da Rua Nunes, íamos de carrinho fazer carretos dos ranchos das pessoas. Era um dinheirinho para o final de semana. Nos verões, montávamos barracas na praia de Itapuã e passávamos alguns dias por lá. A comida quase sempre era carreteiro, com café e pão com manteiga pela manhã.
Uma infância pobre, mas divertida. Até perigosa. A gente se aventura muito e até revolver do meu pai peguei para apostar pontaria. Acabei recebendo um balaço e fui parar no pronto-socorro. Para minha sorte, não teve consequência porque a bala entrou em tecido adiposo. Muita sorte. Enfim, uma infância atribulada, intensa, por vezes perigosa.