O fim dos lotações parece mesmo inevitável: desde 2015, o número de viagens anuais em Porto Alegre despencou dois terços – de 19,3 milhões para 6,5 milhões. A quantidade de linhas, atualmente, mal passa da metade do que já foi. E não é difícil entender os motivos da decadência.
Nenhum sistema de transporte – e nenhum serviço que dependa do consumidor – conseguirá se manter sem se adaptar aos novos tempos. Qual é a grande diferença dos lotações de hoje em comparação com 30 anos atrás? Nenhuma. As empresas que administram as linhas dizem que o serviço, nos últimos anos, foi duramente afetado pela "concorrência desleal" dos aplicativos. Só que os aplicativos são só um reflexo do mundo atual.
Quase todas as alternativas de transporte se renovaram de uns anos para cá: a bicicleta ganhou mais ciclovias, os ônibus têm GPS, os táxis aceitam corridas por celular, o trensurb tem aplicativo próprio, mas o lotação ficou para trás. Não adianta ele me buscar na esquina de casa sem me informar, por exemplo, que horas vai chegar. Não vou aguardá-lo indefinidamente. Também quero saber se ele virá lotado ou não, que trajeto vai fazer, quanto tempo levará até o meu destino.
Do jeito que está, sem qualquer suporte tecnológico, talvez exista um lotação passando atrás da minha casa e eu nem saiba. Porque andar de Uber é simplesmente mais fácil.
Uma pena, já que a cidade perde com isso – um micro-ônibus transportando 10 pessoas sempre será melhor, para o trânsito e para o ambiente, do que um Uber para cada passageiro. E a tarifa do lotação, hoje em R$ 8, nem é tão cara: qualquer viagem de Uber, mesmo que dure uma quadra, custa mais do que isso. Sem falar que no lotação você anda 15 quilômetros, com conforto e sem maiores desvios de rota, pagando sempre esse mesmo preço.
Quer dizer: as vantagens são inegáveis. Se o lotação oferecesse um serviço mais moderno, alinhado às exigências do consumidor de classe média, talvez pudesse se estabelecer como alternativa competitiva aos aplicativos. Mas os novos tempos são assim: ou a gente se adapta, ou o mundo nos atropela.